Título: Sadia busca reduzir impacto ambiental da suinocultura
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2005, Economia, p. B20

Colocando em prática o conceito de sustentabilidade - uma das palavras mais presentes no vocabulário empresarial nos últimos tempos -, a Sadia acaba de criar uma instituição para gerenciar estrategicamente seus programas de cunho ambiental e social. O Instituto Sadia de Sustentabilidade foi lançado na semana passada, com o objetivo de levar o conceito de sustentabilidade nos negócios para além dos portões da empresa e influenciar fornecedores e consumidores. O carro-chefe do instituto será o programa "3S - Suinocultura Sustentável Sadia" - que pretende reduzir o impacto ambiental da suinocultura nas propriedades dos produtores associados da empresa, cerca de 3,5 mil nos estados do Sul e Minas Gerais. Partindo de uma experiência piloto já em operação, a empresa vai investir R$ 3 milhões na construção de biodigestores e estruturação de projetos para posterior venda de créditos de carbono, no âmbito do Protocolo de Kyoto.

Os biodigestores são tecnologias que permitem a fermentação dos dejetos dos animais por bactérias, em tanques cobertos, o que reduz a carga poluidora dos efluentes e permite a captura e queima do gás metano, um dos causadores do efeito estufa.

Em 2003, a Sadia começou a implantar biodigestores em três granjas próprias, o que resultou em um potencial de comercialização de créditos da ordem de 260 mil toneladas de carbono em dez anos. Esses créditos já estão sendo negociados com compradores europeus e asiáticos, que provavelmente comprarão também os créditos gerados pelos suinocultores. "O objetivo é transformar em realidade o que era financeiramente inviável para o pequeno produtor." Os custos de implantação de biodigestores variam conforme o número de animais, mas ficam em torno de US$ 30 mil em uma fazenda com mil porcos.

A contrapartida do produtor será operar os biodigestores e o compromisso de investir os recursos na sustentabilidade das granjas. "Os recursos arrecadados com a venda dos créditos vão possibilitar melhorias na propriedade, como recuperação das matas ciliares, conversão dos gases em energia elétrica e transformação dos resíduos dos biodigestores em adubo", diz. "Serão propriedades muito mais ecoeficientes e sustentáveis", explica Júlio Cavasin, gerente de energia e meio ambiente da Sadia e diretor do Instituto. A adesão dos produtores ao programa 3S será voluntária, mas o Instituto estima um mínimo de 50% de adesão, o que representaria 6 milhões de toneladas de carbono retiradas da atmosfera, em dez anos.

O Instituto Sadia também vai atuar na disseminação do consumo responsável de seus produtos, vertente que já vem sendo abraçada pela indústria alimentícia no mundo inteiro. A meta é ser mais transparente sobre os produtos que fabrica, alertando o consumidor contra os males da gordura e do colesterol. "O instituto pretende também dar mais ênfase a programas de atividade física, com aumento dos patrocínios ao esporte", afirma Gilberto Xandó, superintendente do Instituto Sadia.

CONCEITO

A iniciativa da Sadia é a prova que o conceito de sustentabilidade começa a deixar de ser apenas uma teoria. O termo, que veio à tona pela primeira vez em 1987, diz respeito às três dimensões que permeiam os negócios de uma empresa: econômica, social e ambiental. Embora as ONGs tenham contribuído para colocar o tema em evidência, hoje as empresas se esforçam para incorporá-lo à sua realidade.

Um exemplo parte do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), organização que congrega mais de 60 empresas e que realizará, em parceria com a ONU, um congresso para tornar o conceito de sustentabilidade mais conhecido do grande público (ver ao lado).

Para o início do próximo mês, a organização deverá lançar a Câmara Técnica de Finanças Sustentáveis, uma aliança com os principais bancos privados brasileiros com o objetivo de fortalecer o compromisso das instituições com a sustentabilidade. Itaú, ABN Amro Real, Bradesco, Unibanco e a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) serão alguns dos parceiros.

"Os bancos são importantes agentes de difusão da sustentabilidade, ao conceder empréstimos para empresas, por exemplo", diz Fernando Almeida, presidente do CEBDS. "As instituições começam a negar crédito para quem não leva os fatores sociais e ambientais em consideração, e esse é um grande passo." Um dos objetivos da Câmara de Finanças Sustentáveis será sensibilizar os bancos públicos e outros setores governamentais para que estejam atentos ao tripé social-ambiental-econômico em suas operações e programas.