Título: Presidente tenta desfazer mal-estar com israelenses
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2005, Espaço Aberto, p. A5

"Nunca neguei a necessidade do Estado de Israel",

disse Lula no discurso de encerramento da cúpula

Em resposta aos contundentes discursos contra Israel e Estados Unidos feitos pelos líderes árabes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou sua fala de encerramento da Cúpula América do Sul - Países Árabes para tentar contornar a polêmica apresentando uma posição de neutralidade do governo brasileiro. Em longo discurso de improviso, o presidente Lula defendeu a existência dos Estados da Palestina e de Israel, lembrou que a paz é um "exercício de paciência, como um jogo de xadrez", desejou "sorte" aos iraquianos, ressalvando que o Brasil "contestou" a ocupação norte-americana, e citou a pobreza como uma das causas do terrorismo. Tentando evitar polêmica com os israelenses, que receberão a visita do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, no final do mês, Lula fez questão de afirmar que, embora tenha nascido na política brasileira defendendo o Estado Palestino, ressaltou: "Nunca neguei a necessidade do Estado de Israel".

Logo depois, ao reiterar que "a paz é a única coisa que pode permitir a construção de um mundo harmonioso, democrático e socialmente justo", Lula citou o exemplo do Brasil, onde judeus e palestinos "convivem em paz, participam da política, comungam suas religiões sem serem importunados pelo governo".

O presidente contou ainda que ficou "impressionado" com a conversa que teve com o presidente da Autoridade Palestina, "pela sua sabedoria e pela sua tranqüilidade".

Depois de salientar que "um novo momento histórico" estava nascendo nas relações entre os povos árabes e os sul-americanos, o presidente destacou que os países têm algo entre si para trocar sem que seja uma mera exploração.

São países, segundo ele, que estão pensando no comércio internacional "como uma mão de duas vias". E advertiu sobre os perigos do terrorismo: "Porque se apenas alguns crescerem, essa árvore poderá ser muito alta, mas os seus galhos serão frágeis e poderão quebrar com a falta de democracia, com o terrorismo existente por causa da má distribuição da riqueza produzida no planeta Terra".

FOME

Para Lula, não se deve ficar procurando culpados para a fome do mundo. "Poderia aqui citar muitos culpados, e não faltam culpados. Para qualquer lado que olhássemos poderíamos ver um culpado pelas coisas que acontecem no mundo", disse ele.

Tentando, mais uma vez, comparar os problemas do mundo com a sua vida pessoal, o presidente ressalvou: "Eu aprendi também, desde pequeno, que antes de condenar alguém, antes de culpar outrem, eu aprendi a me olhar por dentro e saber que as nossas debilidades não são frutos de erros históricos cometidos por gente que, antes nós, governaram os nossos países".

Ao defender um mundo sem guerras, o presidente disse que quer ajudar a construir um século 21, diferente do que foi o século 20. "É possível construir um mundo sem guerras, é possível construir um mundo sem muros e sem fronteiras ideológicas, racistas, preconceituosas, econômicas e culturais", declarou ele, ensinando que "esse mundo depende mais da nossa cabeça e das nossas atitudes do que das atitudes dos outros".

O presidente desejou "toda a sorte do mundo" ao povo do Iraque e lembrou que "o Brasil foi daqueles países que contestaram a ocupação porque entendia que era preciso negociar mais". Para ele, "agora, o que nós queremos é que o povo iraquiano tenha a possibilidade de reconstruir o seu país, reconstruir instituições sólidas, consolidar a democracia, consolidar o desenvolvimento, porque eu acho que, como outros povos, o povo iraquiano tem o direito de construir a sua própria felicidade e seu próprio país".