Título: Abbas quer a resistência, mas com métodos pacíficos
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2005, Nacional, p. A8

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse esperar que "todas as facções palestinas adotem métodos pacíficos", ao responder a uma pergunta do Estado sobre se a declaração final da cúpula respalda os atentados do Hamas e da Jihad Islâmica, ao defender o direito dos povos de resistir à ocupação estrangeira. "Estamos num período de trégua já há quatro meses", ponderou Abbas, conhecido como Abu Mazen, nome de guerra do ex-combatente, e fundador, com Yasser Arafat, do movimento palestino. "Isso mostra o comprometimento dos palestinos (com o processo de paz)."

Na declaração final, a palavra-chave é resistir. No jargão do mundo árabe, o que grupos como Hamas e Jihad fazem não é terrorismo, mas resistência. Portanto, na sua visão, a declaração da cúpula não só não condena seus atentados, como os justifica.

"Bush e Sharon é que são terroristas. O problema é o terrorismo de Estado", diz Khaled Salamah, presidente honorário da Federação de Entidades Americano-Árabes. Hamas e Jihad estão na lista do terrorismo que o Departamento de Estado divulgou após o atentado de 11 de setembro de 2001.

"A coisa foi feita devagar, sem alarde", disse um líder da comunidade palestina no Brasil, festejando a declaração final. "Estamos satisfeitos com os parágrafos sobre Oriente Médio e acreditamos que são suficientes, como resultado da cúpula. Tudo o que está na declaração está bem dito e reflete nossos pensamentos", disse Abbas. "A posição dos palestinos é de que só existe essa via (a da paz), não outra", disse. "O passado chegou ao fim. Estamos olhando para o futuro. Queremos uma paz baseada em dois Estados, a Palestina e Israel. Buscamos um Estado independente, viável, democrático."

Abbas condenou o chanceler israelense, Silvan Shalom, por dizer que se o Hamas vencesse eleições Israel não retiraria tropas dos territórios ocupados. "É a opinião de alguém que não acredita na democracia. Se o Hamas vencer, terá sido escolha do povo palestino, e essa escolha tem de ser respeitada."

A declaração tem mais trechos dirigidos a Israel, ao pedir a criação de zona livre de armas nucleares no Oriente Médio e adoção de resoluções do Conselho de Segurança pelo retorno às fronteiras de 67, quando Israel ocupou Jerusalém Oriental, a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e as Colinas do Golan.

Abbas elogiou Lula. "O papel do presidente Lula tem sido muito positivo, construtivo. Ele acompanhará os trabalhos e estamos muito otimistas sobre os resultados da cúpula." Ele partiu ontem depois do almoço para o Chile.