Título: Aldo reage a Gushiken e lembra que PT ocupa 19 ministérios
Autor: Cida Fontes, Christiane Samarco, Colaborou: Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2005, Nacional, p. A11

"Se o PT julga que os 19 ministérios que ocupa são insuficientes, tem o direito de reivindicar, mas eu penso que mais um ministério para o PT não vai resolver o problema da base do governo." Sempre econômico nas palavras, ontem o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do B) não se conteve. Sem perder a elegância, fez críticas duras ao apetite do PT na disputa de cargos com os aliados e ironizou a defesa pública de sua demissão feita pelo ministro Luiz Gushiken, da Comunicação de Governo. "Alguém pode dizer que foi um comentário exótico, um ministro falando sobre a função de outro", ironizou Aldo.

Segundo o ministro, o PT precisa ceder espaço aos aliados, uma vez que o governo não tem maioria no Congresso. Ele fez questão de frisar que não é obstáculo para qualquer mudança na coordenação política, mas deixou claro que não tomará a iniciativa da demissão: "Enquanto o presidente achar que tenho um papel a cumprir, defenderei minha função como um soldado defende sua cidadela".

Até petistas que querem mudanças na articulação política avaliavam que a ofensiva de Gushiken deve pôr abaixo todo o esforço.

Também no gabinete presidencial, em setores do governo e no Congresso causou mal-estar a atitude de Gushiken. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou irritado com a pressão da cúpula petista para que o PT retome a pasta da articulação política para o ministro José Dirceu, da Casa Civil.

Na avaliação geral, Gushiken reproduziu o chamado "efeito Severino": uma referência ao revés provocado pela exigência do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, para nomear o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) ministro. Em resposta à ousadia do deputado, Lula abortou a reforma ministerial em curso havia seis meses.

Embora o desgaste político imposto ao ministro Aldo seja incontestável, o exagero do petista pode acabar produzindo efeito contrário. O próprio Dirceu avisou a aliados ontem que o desembarque de Aldo será no mínimo adiado.

"Só quem pode opinar sobre a permanência de ministros é o presidente da República e não vejo como isso possa ser da competência de outro ministro", criticou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

"É um absurdo a humilhação a que estão submetendo um ministro competente como o Aldo", protestou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Líderes dos partidos da base criticaram a desarticulação do Planalto e elegeram como alvo de ataques Gushiken.