Título: No RS, capataz mantinha trabalhadores sob mira de rifle
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2005, Nacional, p. A12

A promessa de trabalho, salário diário de R$ 15, transporte, moradia e alimentação se transformou num drama para 35 moradores de Wenceslau Braz, no Paraná, que aceitaram a oferta de agenciadores e acabaram colhendo alho, feijão e batata na condição de escravos numa fazenda de São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, a 900 quilômetros de suas casas. A exploração do grupo, que tinha sete menores de 18 anos, durou 40 dias e só foi descoberta na semana passada quando a Polícia Civil gaúcha recebeu uma denúncia dos trabalhadores. Eles estavam revoltados com as atitudes de um capataz que comandava a colheita com um rifle nas mãos e que havia espancado um adolescente incapacitado, pelo cansaço, de acompanhar o ritmo de colheita - jornadas de 14 horas diárias e sem descanso semanal.

Os policiais foram à propriedade no distrito de Tainhas na noite de 4 de maio e encontraram os trabalhadores abrigados num galpão insalubre, sem banheiros e sem lugar para dormir. Também constataram que o sistema de débito descontaria do grupo até instrumentos usados na colheita, além de toalhas e sabonetes, todos vendidos a preços abusivos pelo armazém da fazenda. Diante de tantos descontos, pouco sobrava do salário. Os trabalhadores eram proibidos de sair da fazenda, inclusive para buscar atendimento médico.

O capataz Reginaldo de Oliveira Batista foi preso no ato e seu irmão Fábio de Oliveira Batista é procurado pela polícia. O empresário Luiz Carlos Berti, arrendatário que cultiva os 30 hectares da fazenda, disse que não tinha conhecimento das irregularidades, atribuindo a culpa aos capatazes, responsáveis pela contratação da mão-de-obra. Mas fez um acordo com o Ministério Público e com a Delegacia Regional do Trabalho.

Para cumpri-lo, anotou os contratos nas carteiras de trabalho e pagou os salários e a viagem de volta a Wenceslau Braz, que foi feita em ônibus fretado, na segunda-feira.