Título: MST engrossa marcha e faz a 8.ª invasão
Autor: José Maria Tomazela Colaborou: João Unes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2005, Nacional, p. A12

O Movimento dos Sem-Terra (MST) está engrossando a Marcha Nacional pela Reforma Agrária na reta final da chegada a Brasília. Entre terça-feira e ontem, cerca de mil pessoas se juntaram à marcha. As caravanas chegaram dos Estados de Goiás, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso.

O número de pessoas em marcha subiu para 12 mil e o total de manifestantes envolvidos no evento passou para 13 mil. O acampamento, que já tem características de uma cidade móvel, foi ampliado. Ao todo, já são 417 ônibus a serviço do movimento.

Uma parte acompanha a marcha, mas a maioria já está nos arredores de Brasília. Os veículos serão utilizados para o retorno dos sem-terra a seus Estados de origem. Há delegações de 23 Estados. A marcha já percorreu 147 quilômetros desde a saída de Goiânia, no último dia 2.

Ontem, os sem-terra caminharam 16 quilômetros e acamparam na Fazenda Ribeirão das Lages, na divisa entre Alexânia e Engenho das Lages, ainda em território goiano. A fazenda foi a 8.ª a ser invadida desde o início da caminhada. No dia anterior, os sem-terra tinham montado acampamento no Recanto da Taboca, também invadido. Na nova área ocupada, o proprietário Lázaro Alves Júnior, mantém criação de gado de corte. "Eles cortaram o cadeado e entraram", contou. O coordenador nacional do MST, Roberto Baggio, disse que as terras são bens comuns, "do povo", e serão usadas por "algumas horas".

Hoje, os sem-terra permanecem acampados para atividades internas. Segundo Baggio, os grupos farão estudos e irão se preparar para a arrancada final. A marcha será retomada amanhã, com mais 17 quilômetros, até o local conhecido como Casa do Índio, em Engenho das Lages.

Líderes como José Rainha Júnior, que atua no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, participam da caminhada. A chegada em Brasília está prevista para o dia 16. Na véspera, os manifestantes passam a noite na frente da residência oficial do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), onde será realizado um ato público. A marcha será encerrada dia 17 com atos públicos na Esplanada dos Ministérios, mas os sem-terra devem permanecer até o dia 18 em Brasília. Líderes nacionais do MST, como João Pedro Stédile e Gilmar Mauro, já negociam com o governo a agenda de encontros para o dia 17, em Brasília e esperam ser recebidos pelo presidente Lula.

DEFESA TUCANA

O governo de Goiás considera legal a ajuda à marcha do MST. Em nota oficial, a assessoria de imprensa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), critica o governo Lula e diz que a ajuda à marcha a é feita "dentro do total e estrito parâmetro legal" e se deu atendendo "a um pedido do arcebispo de Goiânia, d. Washington Cruz, atendendo a apelo humanitário". A nota foi uma reação à abertura de inquérito pelo MP para apurar se houve improbidade administrativa na doação de R$ 400 mil pelo Estado e pela Prefeitura de Goiânia à marcha do MST.