Título: Lucro das empresas de capital aberto cresce 55% no trimestre
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2005, Economia, p. B14

O lucro das empresas de capital aberto cresceu em média 55% no primeiro trimestre deste ano comparado a igual período de 2004 - apesar dos sinais de desaceleração da economia brasileira. Levantamento feito pela consultoria Economática, com 80 companhias negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), indica que os ganhos saltaram de R$ 4,72 bilhões para R$ 7,32 bilhões nos primeiros três meses de 2005, já descontada a inflação do período. As receitas líquidas também apresentaram desempenho vigoroso, de R$ 77,36 bilhões. Valor 15,2% superior ao do primeiro trimestre de 2004, quando esse grupo de empresas havia apurado faturamento líquido de R$ R$ 67,17 bilhões. Segundo o presidente da Economática, Fernando Exel, a empresa que mais contribuiu para esse aumento foi a Gerdau.

As vendas da companhia cresceram 30% no período, de R$ 4,49 bilhões para R$ 5,83 bilhões. O faturamento da AmBev também teve importância no resultado geral: cresceu 44%, de R$ 2,55 bilhões para R$ 3,69 bilhões. Das 80 empresas incluídas no levantamento, apenas 15 tiveram queda de receita. Sete delas são do setor de telecomunicações, quatro, de papel e celulose, três de têxtil e uma de energia.

COMMODITIES

Com receitas maiores, o lucro operacional das companhias, antes de juros e impostos, avançou 30,6%, e alcançou R$ 15,87 bilhões. Uma das explicações para os resultados positivos continua sendo o aumento das exportações e a manutenção dos preços das commodities em patamares ainda elevados, afirma o chefe de pesquisa da corretora Ágora Senior, Marco Melo. Segundo analistas, o resultado de algumas empresas poderia ser ainda melhor se o dólar não estivesse em nível tão baixo.

Mas o recuo da moeda americana também contribuiu para reduzir o endividamento das empresas, que caiu de R$ 122,09 bilhões para R$ 113,10 bilhões. Uma parte dessa redução deve-se ao pagamento de dívidas, afirma Exel. Com a retomada da atividade econômica no ano passado, o fluxo de caixa das empresas melhorou e elas passaram a ter mais recursos para honrar seus compromissos. Algumas, porém, optaram pela reestruturação dos débitos, alongando vencimentos e negociando juros menores.

No caso da Usiminas, que apresentou um lucro de R$ 1 bilhão (crescimento de 179% em relação ao ano anterior), a grande geração de caixa permitiu que a companhia continuasse a reduzir sua dívida. Segundo o trabalho, no primeiro trimestre, o endividamento líquido da empresa caiu R$ 2 bilhões, equivalente a 30%.

CAPACIDADE

O recuo da dívida, aliado ao aumento do lucro operacional, melhorou o índice que mede a capacidade das empresas de pagar suas dívidas. A relação entre lucro operacional e dívida financeira aumentou de 8,8%, no primeiro trimestre de 2004, para 13,7%, no ano passado. Esse índice significa que, para cada R$ 100 de dívida, as empresas conseguem gerar R$ 13,7 de lucro operacional.

No trabalho da Economática, que não considerou o resultado dos bancos nem o da Companhia Vale do Rio Doce, divulgado ontem após o fechamento do mercado (ver abaixo), as empresas do setor de siderurgia e metalurgia estavam na liderança dos maiores lucros apurados no período de janeiro a março (ver quadro). São elas: Usiminas, Companhia Siderúrgica Nacional, Gerdau e Companhia Siderúrgica de Tubarão. A expectativa é que essas empresas continuem registrando números positivos nos próximos trimestres, já que a previsão das commodities é continuar em alta. Nesse cenário, diz Melo, outros setores deverão se beneficiar, como o petroquímico e o de mineração.