Título: Governo tenta fugir de desgaste e joga escândalo para PTB resolver
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2005, Nacional, p. A4

Eficácia da estratégia é posta em dúvida por aliados do governo, que já enfrenta crises com os casos de Meirelles e Jucá

Maurício Marinho: A gente procura agora ter muito cuidado com telefone, falar o mínimo possível. (...) Uns têm escritório. Para evitar conversa, para evitar problema. Interlocutor 1: É que eu achei que era o contrário. Eu achei que ia ser problema entregar aqui o dinheiro. Marinho: Aqui é mais seguro que lá fora, aqui não tem problema. (nisso, um dos interlocutores saca o dinheiro e estende o maço a Maurício Marinho, enquanto outro interlocutor explica o significado desse pagamento) Interlocutor 2: Eu queria trazer para você o valor inteiro... Marinho: Entendi, entendi. Interlocutor 2: É só para assegurar aquela conversa que a gente tá tendo... Marinho: Tá jóia! Interlocutor 2: É uma questão até de estratégia, você vai entender isso. (...) Agora fica mais simples a gente fazer o resto. Entenda isso como um sinal, um agradecimento à boa vontade. Marinho: Não tem erro. Reprodução: revista Veja Tânia Monteiro Colaborou: Cida Fontes BRASÍLIA O governo vai tentar circunscrever às órbitas do PTB e do Ministério das Comunicações a crise provocada pelas denúncia de que haveria um esquema de cobrança de propina nos Correios, que seria operado por funcionários indicados pelo presidente do partido, deputado Roberto Jefferson (RJ). Ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado que a Controladoria Geral da União e a Polícia Federal entrarão no caso.

A eficácia da estratégia, no entanto, está sendo colocada em dúvida por aliados do próprio governo, que já enfrenta forte desgaste com dois problemáticos contenciosos - as denúncias contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e contra o ministro da Previdência, Romero Jucá. O líder do PSB, deputado Renato Casagrande (PSB-ES), aliado do governo, previu que as novas denúncias contra o PTB trarão mais problemas ainda para a base de apoio do governo no Congresso.

O governo anotou a primeira reação do PTB, que cobrou, para Roberto Jefferson, a mesma solidariedade que o governo e o presidente Lula emprestaram ao ministro José Dirceu à época das denúncias contra o assessor Waldomiro Diniz. Por coincidência ou não, no fim de semana o deputado Roberto Jefferson telefonou para Dirceu para negar categoricamente as denúncias contra ele.

TRÊS FRENTES

Casagrande lembrou as acusações contra Meirelles e Jucá e disse que a nova denúncia tem de ser resolvida o quanto antes. "O governo já tem dois grandes problemas, e agora mais este", disse ele desanimado, avaliando que dificilmente o Planalto conseguirá manter o novo problema à distância, sem sofrer desgaste.

Um interlocutor do presidente Lula disse que ele ficou preocupado com o episódio, mas quer que os fatos sejam investigados e que os responsáveis sejam exemplarmente punidos. Esse funcionário próximo ao presidente revelou que a posição do Palácio do Planalto é que nenhum culpado deve ser poupado, mas, por outro lado, o fato precisa ser apurado com serenidade e sem precipitações.

No fim de semana, foi intensa a troca de telefonemas entre autoridades do governo e entre representantes do governo e líderes da base aliada, a partir do momento em que a denúncia foi para as bancas. No sábado, logo que foi informado do conteúdo da denúncia, o presidente Lula convocou o ministro Eunício Oliveira para uma conversa da qual participaram, também, os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Os quatro discutiram as primeiras providências do governo.

Logo depois da conversa com o presidente, Eunício Oliveira divulgou uma nota anunciando o afastamento do diretor de administração dos Correios, Antônio Osório Menezes Batista. Lula foi informado pelo ministro Márcio Thomaz Bastos que a Polícia Federal está entrando no caso e hoje será indicado um delegado para presidir o inquérito que será aberto. A Controladoria Geral da União também começará a investigar as denúncias.