Título: Espaço para PMDB é secundário, diz Renan
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2005, Nacional, p. A6

Senador quer disputar governo de Alagoas e ainda não tem apoio garantido do PT

Christiane Samarco BRASÍLIA A irritação da cúpula governista do PMDB e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai muito além do veto ao aumento salarial no Congresso. A crise de relacionamento entre o partido e o governo se agravou desde a reunião que os peemedebistas tiveram com Lula na semana passada, e tende a piorar por conta da questão eleitoral. A avaliação geral é a de que o Palácio do Planalto e o PT não querem aliança com o PMDB e ainda põem em risco a sobrevivência política dos peemedebistas, boicotando projetos de poder nos Estados. Dos 23 senadores do PMDB, 12 vão disputar eleição para governos estaduais em 2006. "A questão dos cargos, agora, é secundária. O principal é o futuro, são as eleições", diz Renan. O problema é que ele não tem a garantia de apoio do PT e do governo à sua eventual candidatura ao governo de Alagoas.

A cúpula peemedebista pediu a neutralidade de Lula em caso de haver mais de um palanque aliado. Na reunião palaciana, citaram o exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que não interferia nas disputas regionais entre partidos da base, mesmo quando um dos candidatos era tucano. Foi quando o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, interrompeu Lula - que segundo um dos participantes do encontro, estava prestes a concordar. "Quem vai decidir isto é o comitê político (da reeleição de Lula), e não o candidato", afirmou Dirceu. Com isso, o PMDB avalia que até o apoio à reeleição do governador Roberto Requião, aliado de Lula no Paraná, é incerto.

Os peemedebistas se queixam de que a conversa no Planalto foi desastrosa, porque Lula dizia uma coisa e Dirceu, outra. O PMDB decidiu levar o assunto ao presidente, depois que Dirceu declarou apoio à reeleição da governadora do Rio Grande do Norte, Wilma Faria, do PSB, 20 meses antes da eleição. O movimento do ministro foi interpretado no partido como um golpe contra a candidatura a governador do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que, em protesto, abandonou seu posto de vice-líder do governo no Senado.

Com o episódio do veto, a crise de desconfiança contaminou toda a base aliada e ainda acirrou os ânimos da oposição, que promete recrudescer a ofensiva contra os interesses do Planalto. "Ficou claro que o governo quer ir para o confronto, jogando a opinião pública contra o Congresso", dizem o senador Luiz Otávio (PMDB-PA) e o líder da oposição no Senado, José Jorge (PFL-PE).