Título: Lula pede inventário de cargos do PT no governo
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2005, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encomendou à direção do PT um levantamento de todos os cargos da administração federal preenchidos por indicação do partido. O mapa das nomeações nos Estados será finalizado nos próximos dias e confrontado com o controle, mantido pela Casa Civil, do espaço de cada legenda aliada. A iniciativa é parte do esforço do presidente para repactuar a coalizão de governo e conter o apetite dos partidos da base - especialmente do próprio PT.

O presidente tenta encerrar de vez a crise na condução política do governo - agravada na última semana por uma ofensiva do PT, tornada pública pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, sobre a vaga do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Segundo interlocutores, ele deve manter Aldo no cargo, por enquanto. Não deverá extinguir a pasta e transferir suas atribuições à Casa Civil, mas a proximidade das eleições deverá culminar na nomeação de um petista para o cargo.

Nesse caso, um petista mais ligado ao próprio Lula do que ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que vinha tentando emplacar o nome do deputado João Paulo Cunha.

Lula vai assumir pessoalmente as negociações com a base aliada e quer ampliar o diálogo com o Congresso, conforme antecipou o Estado, mas deverá também cobrar mais dedicação dos partidos que apóiam o governo, aposta um dirigente petista. "O PT pode ter que dividir espaço, mas os aliados precisam mostrar a que vieram", disse ele. "Essa é uma semana decisiva." O PC do B de Aldo tem 9 deputados federais, mas apenas 5 votam com o governo, lembrou outro dirigente.

"O presidente Lula já manifestou que tem consciência de que devemos passar por uma nova etapa", disse, no sábado, o ministro da Educação, Tarso Genro, sobre a articulação política. "Isso supõe uma recomposição ordenada de nossas relações com o Parlamento e uma reorganização do centro político do governo." Ele se negou a discutir a situação de Aldo ou citar nomes para o ministério. Segundo Tarso, o governo precisa equilibrar a relação "um pouco dispersa" com o conjunto da base aliada e com a bancada do PT.

Lula já está agindo, ressaltou o ministro. De fato. Além do levantamento pedido ao PT, ele tem várias reuniões marcadas nesta semana com os líderes dos partidos da base e com a direção da Câmara dos Deputados. "É evidente que há dificuldades que devem ser enfrentadas e é isso que o governo está fazendo, sem alarmismos", desconversou o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.

Do lado petista, o levantamento de cargos é visto como positivo. Pode demonstrar que o "gigantismo" do PT no governo - como acusam os aliados - é lenda. "O governo Lula indicou apenas 6 mil cargos de confiança", disse o presidente do PT, José Genoino. "O PT ocupa um terço dessas vagas."