Título: Chirac negocia com presidente venda direta de caças Mirage
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2005, Nacional, p. A6

Proposta formal, porém reservada, prevê fornecimento de 12 a 16 unidades usadas DEFESA Roberto Godoy O governo da França está tratando diretamente com o governo do Brasil a venda de 12 a 16 caças supersônicos do tipo Mirage 2000, série 5, por pouco mais de 50 milhões. Os presidentes Jacques Chirac e Luiz Inácio Lula da Silva já trataram do assunto de forma preliminar faz dois meses. Na sexta-feira era tida como certa uma nova conversa entre os dois nas próximas semanas.

No dia 14 de julho Lula estará na avenida Champs-Elysées, em Paris, ao lado de Chirac, como chefe de Estado convidado para a solene parada militar do Dia Nacional da França. É esperado um gesto de marketing diplomático; talvez um sobrevôo do Mirage 2000-5 com as cores da FAB. Tanto esforço é justificado. O governo francês considera o futuro fornecimento dos novos supercaças Rafale, produto Dassault, ainda na etapa de entrega. O preço unitário da configuração de exportação oscila entre US$ 50 milhões - cotação para exportação de 100 caças para Cingapura - e US$ 70 milhões, no arranjo mais avançado, equivalente ao especificado pela Defesa da França.

Os Mirage 2000-5 do acordo são usados. Foram construídos entre os anos 80 e 90 e estão em operação na Armée de l'Air, a aviação francesa. O processo de modernização pode levar o custo final do lote para 100 milhões. O prazo do financiamento é de 15 anos.

Uma proposta formal, porém reservada, circula desde março entre os gabinetes do Palácio do Elisée e do Palácio do Planalto.

Oficialmente o fabricante do caça, que substituiria os velhos Mirage IIIE/Br do 1.º Grupo de Defesa Aérea (GDA), da FAB, na base de Anápolis, não participa da negociação. Yves Robins, vice-presidente de relações internacionais da Dassault-Aviation, ao esclarecer essa questão, destacou, no entanto, que a corporação "continua à disposição de seus clientes para atender necessidades que venham a expressar".

Para especialistas do Comando da Aeronáutica, ligados ao desenvolvimento de tecnologia, essa atitude sinaliza para um inevitável envolvimento da empresa no eventual processo de revitalização. A Dassault é sócia minoritária da Embraer, responsável, em parceria com a israelense Elbit, pelo programa de modernização dos F-5E da Força Aérea. Rebatizados como F-5Br Tigre, o primeiro lote de 18 caças da frota de 46 desses supersônicos táticos será entregue até o fim do ano.

A meia-noite do dia 31 de dezembro os Mirage IIIE/Br do GDA serão desativados. Em seu lugar entrarão temporariamente em ação 12 Tigres com tecnologia revista e atualizada. Os Mirage 2000-5 participaram de um grande exercício executado no Nordeste, a Operação Cruzex. Pilotos da FAB experimentaram os aviões e destacaram a eficiência do radar RDY, que detecta 24 alvos simultaneamente e prepara o combate contra oito deles.

CHANCE PERDIDA

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luis Carlos Bueno, estava quinta-feira na Coréia do Sul, avaliando possibilidades de acordos de cooperação bilateral. O presidente Lula visitará o país ainda este mês.

A Korean Aerospace Industries (KAI) apresentou ao brigadeiro Bueno o supersônico de treinamento T-50, o Águia Dourada. Inspirado no conceito do F-16A americano, sob licença do grupo Lockheed-Martin, a pequena aeronave pode ser convertida para ataque ao solo e para cumprir tarefas de suporte de fogo. Embora a agência de notícias da Coréia, a Yonhap, tenha afirmado que Bueno propôs a aquisição do Águia Dourada, é pouco provável que isso seja feito. Fontes ligadas ao Comando da Aeronáutica acreditam que o T-50 possa vir a ser estudado como um dos candidatos à substituição - por volta de 2010 - dos velhos subsônicos Xavante de ataque ao solo. A Força Aérea mantém 60 desses jatos. Recentemente, a compra de suprimentos na África do Sul, que fabricou durante algum tempo equipamento semelhante, permitiu estender a vida útil do conjunto por meio da troca de partes e peças.

Uma das ofertas de negócio com aviões usados em estudo - a compra de 12 F-16A Falcon desativados em 1994 pela aviação da Bélgica e mantidos em ótimo estado de conservação - virou chance perdida.

Depois de esperar por muito tempo a definição de eventuais clientes como a FAB e a aviação da Venezuela, a administração belga decidiu remover os caças para o centro logístico de Roucour onde serão desmontados. Os componentes vão para a reserva de manutenção das versões mais novas, ainda em utilização regular. O resto irá para o mercado internacional de reciclados.