Título: 'Vamos dar um pau no Palocci', diz Stédile
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2005, Nacional, p. A7

Cidade deve ter trânsito difícil outra vez Marcha chega a Brasília e líder do MST pressionará por mudança na economia

PROBLEMAS: Sem experiência em enfrentar congestionamentos como os registrados em São Paulo, os moradores de Brasília deverão sofrer pela segunda semana seguida com problemas no trânsito. Após os transtornos causados pela Cúpula Países Árabes - América do Sul, novas confusões deverão ocorrer com a chegada da Marcha Nacional pela Reforma Agrária do Movimento dos Sem-Terra. São previstas interdições parciais das pistas por onde passarão os manifestantes. Para evitar tumultos, 30 mil homens das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros deverão ser convocados. O governo espera manifestações concentradas na Esplanada dos Ministérios, mas a confusão pode aumentar se os sem-terra fizerem protestos na Embaixada dos Estados Unidos e no Banco Central. José Maria Tomazela BRASÍLIA O líder nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, propôs ontem, em Brasília, "dar um pau" no ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para convencê-lo a mudar a política econômica do governo, que considera "perversa". A proposta foi feita em conversa com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o teólogo Leonardo Boff, presenciada por jornalistas, durante a chegada da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, com mais de 12 mil militantes, à região central da capital. "Vamos pegar uns 30 economistas nossos e dar um pau no Palocci", disse. Explicou, em seguida, que usara uma figura de linguagem. "É força de expressão, dar um pau no sentido de fazer mudar a política econômica." Antes, no palanque improvisado sobre um carro de som, Stédile entrevistou Suplicy e praticamente obrigou o senador a criticar a política econômica, sob os aplausos dos militantes. Depois, Suplicy feriu a cabeça ao passar sob um outdoor e teve de ser medicado na ambulância cedida à marcha pelo governo goiano. "Foi só um cortinho", explicou. A marcha avançou 15 km e causou poucos transtornos para o trânsito. O acampamento foi montado num canteiro de obras, na frente do Parkshopping, maior centro de compras de Brasília. Justificando os ataques ao ministro, Stédile disse depois que o alvo não é Palocci, mas a política econômica. "Não estamos querendo mudar o ministro, mas as altas taxas de juro e a transferência do superávit primário para os bancos." Confirmou, no entanto, um ato de protesto, amanhã à tarde, na frente do ministério. Perguntado se falaria com Palocci, disse que conversaria apenas "com o chefe dele", referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele espera que o presidente atenda as reivindicações - entre as quais a de assentar 430 mil famílias - sob pena de "fazer um governozinho igual aos outros".

Convidados por Stédile, Suplicy e Boff caminharam pelo acampamento e almoçaram as mesmas marmitas servidas aos sem-terra, com arroz, feijão, frango, mandioca e bananas.

Instado por Stédile, o senador também criticou a política econômica do governo do PT, dizendo que deve dar prioridade às questões sociais e apressar a reforma agrária. "É importante dialogar com a equipe econômica sobre o peso significativo dos juros na economia. Há margem para redução, gradual, mas firme, nas taxas."

Amanhã, uma comissão de sem-terra será recebida por Lula, encerrando a marcha.

TARDE NO SHOPPING

A despeito das teorias anticapitalistas pregadas pelas lideranças do movimento, dezenas de sem-terra foram ontem à tarde ao Parkshopping. Eles olhavam as lojas de grife e muitos foram ao McDonald's. Na chegada da marcha, líderes do MST criticaram a lanchonete, "símbolo do imperialismo americano, que quer ditar o que devemos comer".