Título: Condoleezza visita Iraque de surpresa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/05/2005, Internacional, p. A9

Violência aumenta com novos ataques rebeldes que deixaram 9 mortos e mais de 30 feridos e a descoberta de outros 34 cadáveres

IRAQUE Reuters, EFE, DPA, AP e AFP BAGDÁ Em meio a novos ataques rebeldes que deixaram pelo menos 9 mortos e mais de 30 feridos e a descoberta de 34 corpos em três regiões diferentes, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, fez uma visita de surpresa ontem ao Iraque. Ela chegou à cidade de Irbil, 350 quilômetros ao norte de Bagdá, a bordo de um avião militar. "A insurgência será derrotada quando o povo iraquiano concluir que existe uma alternativa política forte", disse Condoleezza que se reuniu com o líder curdo-iraquiano Massud Barzani, chefe do Partido Democrático Curdo. Depois, ela seguiu para a capital, onde reuniu-se com o primeiro-ministro iraquiano, Ibrahim al-Jaafari.

Segundo a TV iraquiana Al-Irakiya e a rede CNN, Condoleezza pediu paciência ao líder iraquiano que luta contra uma onda de atentados que deixaram mais de 400 mortos desde que ele assumiu, no dia 28. "Estamos lutando aqui contra um grupo de terroristas disposto, com seus ataques cruéis, a impedir o progresso do povo iraquiano", ressaltou ela.

Condoleezza se disse convencida de que o Iraque redigirá sua nova Constituição antes do prazo estabelecido, que expira em agosto. A nova Carta e a eleição de um novo governo no fim do ano são condições fundamentais para a retirada das tropas anglo-americanas do território iraquiano. Recentemente, a secretária manifestou preocupação com a falta de participação dos muçulmanos sunitas na redação do texto constitucional e também no cenário político iraquiano - hoje dominado por representantes da maioria xiita. A exemplo dos curdos, os sunitas, seita à qual pertencia Saddam Hussein, são minoria.

Segundo o Assessor de Segurança Nacional dos EUA, Stephen Hadley, a viagem da Condoleezza faz parte dos esforços da Casa Branca para aproximar-se das minorias iraquianas, como os sunitas, que agora formam a coluna vertebral da insurgência.

"Certamente, a secretária vai continuar esse processo porque é a fórmula adequada, em longo prazo, para pôr fim aos ataques terroristas", acrescentou Hadley.

Condoleezza é a funcionária americana de maior hierarquia que visita o Iraque desde que Jaafari assumiu. Antes da posse do novo governo, visitaram o Iraque - sempre de surpresa, por razões de segurança - o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e o ex-subsecretário de Defesa Paul Wolfowitz. O presidente George W. Bush também esteve rapidamente em Bagdá no ano passado, onde celebrou com soldados americanos o Dia de Ação de Graças.

Condoleezza debateu com o primeiro-ministro os esforços para a reconstrução do país e os planos para realização de uma conferência sobre o tema, em junho, patrocinada conjuntamente por EUA e União Européia. Estima-se que os países participantes se comprometerão a dar assistência técnica para ajudar ao Iraque em vez de recursos financeiros.

VIOLÊNCIA

As forças americanas reforçaram consideravelmente o esquema de segurança com chegada de Condoleezza, mas isso não reduziu o ímpeto dos rebeldes que intensificaram seus ataques. Quatro policiais e dois civis morreram quando suicidas atacaram veículos que conduziam o governador da Província de Diyala, que saiu ileso do incidente.

Num depósito de lixo de Bagdá, agentes da polícia local encontraram os corpos de 13 pessoas mortas com armas de fogo, com as mãos amarradas. "Um caminhão de transporte de lixo chegou ali e lançou os cadáveres", disse uma testemunha, acrescentando: o motorista e outro indivíduo tentaram cobri-los, depois, com terra.

Outros 11 corpos de iraquianos, 4 deles decapitados, foram achados em Iskandariya, sul da capital. Na região de Ramadi, oeste de Bagdá, policiais descobriram no sábado os corpos de dez soldados da Guarda Nacional iraquiana.

Na zona oeste de Bagdá, homens armados interceptaram um carro e mataram a tiros o clérigo muçulmano Qasin al-Gharrawio, representante na capital do grão-aiatolá Ali al-Sistani, a máxima autoridade espiritual dos xiitas iraquianos, e um sobrinho dele.

Na mesma região, desconhecidos assassinaram um alto funcionário da chancelaria iraquiana. Yassim Mohamed oferecia uma recepção a seus vizinhos quanto os atacantes abriram fogo. Ele morreu instantaneamente e três convidados ficaram feridos.

Em meio a esse quadro, o Ministério do Interior informou que os rebeldes libertaram o governador da Província de Anbar, Raja Nawaf, que haviam seqüestrado na semana passada.

OFENSIVA

O Exército americano confirmou ontem que a ofensiva lançada há sete dias contra grupos insurgentes na região próxima da fronteira síria terminou no sábado. "Foram mortos cerca de 130 rebeldes e dezenas ficaram feridos", disse um porta-voz militar, acrescentando que houve 39 detenções. Ele não deu mais detalhes.

Nessa ação, denominada Operação Matador, 9 soldados americanos morreram e 40 ficaram feridos. Foi a maior campanha militar contra os rebeldes iraquianos desde a ocupação americana de Faluja, em novembro.