Título: Irã se dispõe a processar urânio
Autor: Ian Traynor
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2005, Internacional, p. A12

As potências européias estão propensas a convocar uma reunião de emergência do conselho do órgão de vigilância nuclear da ONU depois de uma disputa que vem crescendo progressivamente com o Irã sobre seus projetos nucleares. Teerã parece prestes a violar um acordo de seis meses fechado com Grã-Bretanha, Alemanha e França, pelo qual se comprometeu a congelar todas as suas atividades de enriquecimento de urânio - ação que poderia lhe render sanções do Conselho de Segurança da ONU, mas que também representaria uma vitória diplomática. "Isto tudo é muito dissimulado, mas eles estão jogando com perfeição", disse um diplomata que vem acompanhando a crise que já dura dois anos.

Diplomatas em Viena, sede da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) acreditavam que o Irã poderia começar a deixar de cumprir seus compromissos com a ONU sobre tecnologia nuclear ontem.

A expectativa é a de que a troika da União Européia, que vem negociando com os iranianos desde novembro, quando o acordo foi fechado em Paris, convoque uma reunião de emergência com os 35 membros do conselho da AIEA para a próxima semana, na qual os americanos irão pressionar para que a disputa seja levada ao Conselho de Segurança da ONU para possíveis sanções.

Espera-se que os iranianos retomem a conversão de urânio bruto para gás UF4, um precursor para fabricar o UF6 que é transformado em combustível de urânio enriquecido. O grau de enriquecimento do urânio determina se o combustível será usado para usinas de energia ou fabricação de armas nucleares.

O acordo determina que o Irã congele "todas as atividades relacionadas com o enriquecimento de urânio".

Teerã vai declarar que fabricar o UF4 não constitui uma violação do compromisso, uma alegação que não será aceita nem por europeus nem pelos EUA. "Reiniciar a conversão de urânio seria uma nítida quebra do acordo", disse um diplomata europeu.

Se os iranianos retomarem o trabalho na sua usina de conversão de urânio em Isfahan, será a segunda ruptura nas conversações entre o Irã e o Ocidente em 18 meses. A troika da UE prometeu ao Irã que impedirá a transferência da disputa para o Conselho de Segurança desde que o congelamento do enriquecimento seja mantido.