Título: Para secretário, decisão anula um direito garantido
Autor: Simone Menocchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2005, Vida&, p. A14

O secretário de Atenção à Saúde, Jorge Solla, lamentou a decisão de proibir a distribuição de pílula do dia seguinte em São José dos Campos. "Esta atitude certamente foi baseada em conceitos incorretos sobre o método", afirma. Ele argumenta que a pílula do dia seguinte é usada somente em casos específicos e é distribuída mediante a apresentação de prescrição médica. "É o recurso adotado quando outros métodos contraceptivos não foram usados de forma adequada", afirmou. É o que ocorre, por exemplo, quando o preservativo se rompe durante a relação sexual ou a mulher esquece de tomar a pílula anticoncepcional com alguma regularidade.

A pílula do dia seguinte também é extremamente útil para proteger mulheres vítimas de violência sexual de uma gravidez indesejada. "Nestes casos é ofertado à paciente vítima de abuso o uso da pílula do dia seguinte, além de toda a medicação para prevenir doenças sexualmente transmissíveis", lembra Solla.

Para o secretário, a proibição representa não só um retrocesso, mas também o cerceamento de um direito garantido às mulheres. "Por idéias incorretas, imprecisas, estão expondo mulheres, e seus parceiros, inclusive, a uma gravidez não desejada. O método é aprovado em vários consensos e por várias entidades médicas", observou.

A pílula do dia seguinte leva em sua composição uma dose maior de hormônio. Tal concentração maior impede a nidação, ou seja, o processo em que o ovo se instala no útero. "Tal processo nada tem de abortivo, ao contrário do que algumas pessoas imaginam", afirma Solla.

O Ministério da Saúde, por meio de sua Assessoria de Imprensa, informou ontem que continuará tentando reverter a decisão de São José dos Campos. O ministério considera pequeno o risco de outras cidades adotarem atitudes semelhantes.