Título: Um plano para reduzir doenças sexuais
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2005, Vida&, p. A15

Sem integração entre programas de saúde e regularidade na distribuição de medicamentos, dificilmente o País conseguirá reduzir a alta taxa de infecções por doenças sexualmente transmissíveis, estimada em pelo menos 10 milhões de novos casos por ano. "Precisamos melhorar o atendimento, ampliar a difusão de informações", afirmou ontem o responsável pela unidade de DST do Programa Nacional de DST/Aids, Valdir Monteiro Pinto. Monteiro Pinto apresentou ontem o Plano Estratégico para Controle das DSTs, em São Paulo, no Centro de Referência de Aids. O diretor observa que a população ainda tem grande dificuldade em ter a doença diagnosticada e tratada. Primeiro, por falta de informação sobre sintomas das infecções. Depois, quando tenta marcar consulta, tem de esperar um tempo significativo. "Uma lástima, em termos de saúde pública. Pois enquanto o paciente não estiver em tratamento, ele pode transmitir a doença para seu parceiro sexual."

Quando não são tratadas, essas doenças podem provocar infertilidade, abortos, infecções transmitidas da gestante para o bebê. Além disso, elas podem ampliar em até 18 vezes o risco de contaminação pelo vírus da aids.

Monteiro Pinto diz também ser imprescindível que postos de saúde tenham sempre medicamentos para tratar as doenças. "O ideal é que o paciente já saia medicado."

Para dimensionar o problema, o diretor cita um estudo feito com jovens de 18 anos que se alistaram no serviço militar. A pesquisa, concluída em 2004, mostrou que 18% dos jovens já haviam apresentado pelo menos uma doença sexualmente transmissível. Entre os jovens, somente 32% haviam procurado tratamento.

Monteiro Pinto diz ser essencial a realização de campanhas para alertar a população sobre a necessidade de procurar médico quando os sintomas das doenças aparecerem. "Muitos nem sabem, por exemplo, que uma verruga, uma ferida na área genital, pode ser um indício de infecção", lembra. Para o diretor, é importante integrar ações de saúde, seja do serviço básico, do programa de DST e de serviços de atenção à mulher sobre o tema. "É ampliar a ação de ONGs na prevenção", disse.

APOIO

O Programa de DST/Aids do Estado de São Paulo divulgou ontem uma nota em apoio à decisão do Ministério da Saúde de rejeitar o financiamento da Usaid aos programas de combate à aids. Na nota, o programa classifica como "equivocada" a estratégia da agência americana para combater a aids no Brasil e no mundo.

A recusa do governo brasileiro ao financiamento de US$ 46 milhões da Usaid foi feita há quase duas semanas. A decisão foi tomada diante do descontentamento do governo com as imposições feitas pela agência às ONGs beneficiadas. Mesmo sem constar no edital, a Usaid informou às ONGs selecionadas que a verba dos programas somente seria concedida caso as entidades se comprometessem a não se engajar nas campanhas de legalização da prostituição.