Título: Nos índices, sinais contraditórios
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2005, Economia, p. B3

Inflação desaba no atacado, mas resiste nos preços ao consumidor O Banco Central (BC) está vivendo um momento delicado no qual a inflação já dá sinais de queda no atacado, mas continua bastante preocupante no varejo. Na quarta-feira, o IPCA, o índice da meta de inflação, mostrou uma inflação de 0,87% em abril. Este índice, se anualizado, significa uma inflação anual de 11%, o que evidentemente é incômodo para um BC que busca oficialmente uma inflação de 5,1% em 2005. Ontem, a primeira prévia do IGP-M de maio registrou deflação de 0,03%, puxada pelos preços agrícolas no atacado, que levaram o Índice de Preços por Atacado (IPA) do indicador - o componente de maior peso - a uma deflação de 0,40%.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do IGP-M, porém, não deu motivos de tranqüilidade para o BC. Na primeira prévia de maio, o IPC ficou em 0,72%, comparado com 0,40% na primeira prévia de abril.

Levando-se em conta a forte valorização do real, que fechou ontem em R$ 2,468, era de ser esperar que os preços industriais no atacado, influenciados pelo câmbio, desacelerassem ou mesmo caíssem. Curiosamente, porém, a deflação do IPA por enquanto está vindo dos preços agrícolas, que normalmente têm um comportamento bem oscilante - como subiram muito no início do ano, devido a problemas climáticos, estão agora recuando. O IPA industrial, por sua vez, subiu 0,39% na primeira prévia, acima da alta de 0,29% do indicador de abril.

Desta forma, se a deflação de 0,03% na primeira prévia do IGP-M é uma boa notícia para o BC, ela tem pelo menos dois "poréns". O primeiro é que o IPC ainda está em um nível totalmente incompatível com a meta de inflação, e o segundo é que a esperada desaceleração (ou até deflação) do IPA (que normalmente transmite-se, em um momento subseqüente, ao IPC) está derivando por enquanto das flutuações fortuitas dos preços agrícolas. Fernando Dantas