Título: Prévia de IGP-M indica deflação
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2005, Economia, p. B3

A primeira prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de maio registrou deflação de 0,03%, o menor nível em quase dois anos. Em abril, a taxa havia sido de 0,67%, informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com o coordenador de Análises Econômicas da instituição, Salomão Quadros, a deflação foi causada pela queda de preços dos produtos agrícolas no atacado (de alta de 2,35% para queda de 2,70%). Isso influenciou o indicador que tem maior peso na taxa, o Índice de Preços por Atacado (IPA), que passou de 0,81 (abril) para -0,40% (maio), o menor resultado em 23 meses.

Para Quadros, a deflação na prévia do indicador, cujo período de coleta de preços foi do dia 21 a 30 de abril, abre espaço para o IGP-M fechado de maio ser mais baixo. A queda comprova o fim da influência máxima do "choque dos agrícolas" na inflação do atacado, cujos preços aceleraram devido aos problemas climáticos no início do ano, que prejudicaram várias safras.

"Mais importante do que isso, porém, é o recuo de preços no segmento alimentos processados, que passaram de alta de 0,19% na prévia de abril para queda de 0,41% na primeira prévia de maio", disse. O economista explica que isso é um dado importante, porque mede a transmissão de preços originada do "choque dos preços agrícolas" na inflação do atacado. "Não progrediu a transmissão de preços (da alta dos agrícolas no atacado) no caso dos alimentos processados", disse, não descartando a possibilidade de isso beneficiar a inflação do varejo, no futuro.

Houve elevação, porém, dos preços dos produtos industriais no atacado (de 0,29% para 0,39%). O economista justificou o resultado citando as altas em extrativa mineral (de 0,18% para 1,62%) e outros produtos químicos (de queda de 0,56% para alta de 2,20%). Segundo Quadros, um foi influenciado pelas recentes altas de preço no minério de ferro e o outro, pela elevação de preço do eteno.

"O eteno é a matéria-prima dos plásticos", disse, lembrando que o item tem forte ligação com a flutuação de preços do petróleo no mercado internacional. "Em contrapartida, nos industriais, os preços de combustíveis e lubrificantes estão desacelerando", disse, lembrando que, neste caso, houve recuo de preços, de 1,03% para 0,68%, da prévia de abril, para a primeira prévia do IGP-M de maio.

Em contrapartida, no varejo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) atingiu o maior nível de inflação, nesse tipo de indicador, em 25 meses. O indicador subiu para 0,72% na prévia de maio, ante alta de 0,41% em abril. Quadros explicou que a elevação foi puxada pela aceleração de preços no grupo Habitação (de 0,40% para 0,78%) por causa do reajuste em tarifa elétrica residencial, cuja taxa passou de zero para alta de 2,87%.

Elevações de preços em outros dois grupos contribuíram para o aumento do IPC. É o caso de Vestuário (de queda de 0,30% para alta de 1,30%), cujos preços aceleraram com a entrada da coleção Outono Inverno nas lojas; e o grupo Saúde e Cuidados Pessoais (de 0,27% para 1,22%), que sofre a influência da alta de preços de medicamentos (de queda de 0,24% para alta de 3,95%).

Quadros foi cauteloso ao comentar a inflação do varejo. Embora admitindo a influência de preços administrados, e de repasse da recente alta dos agrícolas no atacado, não descartou a possibilidade de a inflação no varejo estar acelerando por causa do aquecimento da economia, que provoca maior demanda. "Mesmo com a alta dos juros, a renda continua subindo. Não estamos em recessão. A renda sobe, a conta-gotas, e o crédito também aumenta."

Já o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC) subiu para 0,57% na prévia de maio, ante elevação de 0,36% em abril. O IGP-M acumula altas de 2,39% no ano; e de 9,27% em 12 meses.