Título: Estão tentando isolar o partido, diverge Dirceu
Autor: Tânia Monteiro e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O ministro chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, já avisou a amigos e assessores que vai iniciar uma cruzada contra o que ele qualificou de tentativa de colocar o PT em isolamento dentro do governo. "Vou falar algumas coisas que precisam se ditas à sociedade. Estão isolando o PT", desabafou o ministro a amigos sem, contudo, apontar nomes de pessoas ou organizações que estariam por trás dessa orquestração. Amigos do ministro afirmam que essa deve ser a forma encontrada para José Dirceu contra-atacar os partidos aliados que há dois dias se rebelaram contra o PT. Eles estão criticando a tentativa da legenda de ampliar ainda mais seu espaço dentro do governo.

Na próxima segunda-feira, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro pretende tornar pública a sua intenção. Na sua avaliação, ao PT são sempre atribuídas críticas injustas. Há dois dias, o líder do PC do B na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), do mesmo partido do ministro da coordenação política, Aldo Rebelo, acusou o PT de agir com a arrogância de partido hegemônico, apesar de nem sequer ter maioria para governar sozinho.

A crítica do líder do PC do B foi uma resposta às declarações do ministro de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, pedindo a saída de Rebelo. Em conversas informais, Dirceu tem dito que não deseja indicar nome do PT para o lugar do coordenador político do governo. "Eu não quero a coordenação política. Eu não quero ser dono de tudo. Não estou disputando essa posição. O presidente é que tem que deixar claro que tipo de coordenação política ele quer", disse.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, irritado com a cobrança do PT, mandou avisar que é ele quem nomeia ou demite ministro. Em seguida, marcou uma reunião para a próxima quarta-feira para ouvir queixas dos líderes aliados. Em princípio Rebelo estaria prestigiado, mas sua saída do governo é uma questão de dias. Seus próprios seguidores avaliam que, com a oposição petista, sua permanência "virou uma incógnita".

Na conversa com o presidente Lula, os líderes da base aliada pedirão a liberação de emendas e ainda se queixarão da dificuldade de saber quem é o interlocutor político do governo: se o ministro Rebelo, sempre submetido ao fogo amigo do próprio PT, ou se o ministro Dirceu, protagonista de muito dos disparos.

Já a transferência de Dirceu do Gabinete Civil para um outro posto, como têm alardeado assessores do próprio ministro à boca pequena, não tem o menor fundamento, segundo informou um ministro do governo. "Isso é conversa fiada. Ele só diz isso quando está chateado com alguma coisa", avaliou um colega de governo do ministro.

Na verdade, Dirceu está procurando acumular musculatura política para tornar-se ainda mais forte como ministro e coordenador da campanha de reeleição do presidente Lula.