Título: Lula assume operação para impor limites ao PT e avisa que Aldo não sai
Autor: Tânia Monteiro e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Atendendo às queixas dos líderes dos partidos aliados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu trabalhar pessoalmente, a partir de agora, para impor limites ao PT no governo. A primeira providência já tomou: avisou aos principais petistas que garante a permanência de Aldo Rebelo no Ministério da Coordenação Política. O presidente acha que o PT erra em querer aumentar seu espaço no governo e considera ideal o oposto. Lula acredita que as legendas aliadas devem aumentar sua participação, dentro da idéia de um governo de coalizão. Ele repetiu essa avaliação a vários seus aliados diretos. E avisou que vai trabalhar para que seja executada.

Lula começou a atuar também em outras frentes para resolver a crise na base. Passou, por exemplo, a conversar quase diariamente com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para pedir que cessem as resistências aos projetos do governo. Ele acha que Aldo finalmente criou um canal de comunicação direto com o presidente da Câmara. Tanto que ontem Severino saiu publicamente em defesa da manutenção do ministro no cargo.

Paralelamente, Lula quer melhorar as relações entre Legislativo e Executivo, que considera muito esgarçadas. Para isso, marcou reunião no Planalto quarta-feira e convidou Severino, os demais integrantes da Mesa da Câmara e os líderes do governo e da oposição. Com isso, atende a uma antiga reivindicação dos parlamentares aliados, de contatos mais freqüentes. Ao mesmo tempo, tenta retomar um diálogo mais franco com a oposição.

Essa decisão de Lula é uma vitória de Aldo, que sempre defendeu a necessidade de diminuir o caminho entre Congresso e Planalto, ao contrário do PT, que quer o privilégio desses contatos. O presidente está convencido de que tem de mostrar que este é um governo de aliança em todas as áreas. Por isso mesmo é que, diante do aumento do "fogo amigo" contra Aldo, mandou um claro recado: quem nomeia, demite ou mantém ministros é ele, Lula, e a saída de Aldo não está posta.

Diante do aviso, até Luiz Gushiken, secretária de Comunicação de Governo, procurou Aldo. Mas ainda persistiam boatos de que ele poderia substituir na Defesa José Alencar, que voltaria a ser só vice-presidente.

Além do seu esforço pessoal, Lula determinou que os ministros se desdobrem para atender os parlamentares. Quer deixar bem claro a eles, até ao da Fazenda, Antonio Palocci, que não existe ministro técnico, que todos são políticos e todos, sem exceção, precisam atender melhor os parlamentares.

Ainda no caso de Palocci, a derrota do Congresso na MP 232 levou Lula a ficar mais atento a temas de seu ministério. Ele não gostou de não ser avisado das conseqüências e desgastes que poderia sofrer no caso de derrota do projeto. Isso não quer dizer que Palocci esteja enfraquecido, mas que o presidente achou que ele foi com muita sede ao pote e impôs uma derrota desnecessária ao Planalto.

Da mesma forma, Lula quer que todos os ministros defendam mais as políticas do governo e o próprio governo. E tenham uma espécie de bancada no Congresso, para avisá-los dos rumos que um tema possa tomar e do risco de prejuízo a suas áreas. E Palocci não está excluído desse caso.