Título: 'Não me sinto fritado porque não sou peixe', diz Aldo
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Nacional, p. A6

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, negou ontem que esteja sofrendo um processo de fritura no governo, por conta de algumas alas do PT que defendem sua saída. "Não me sinto fritado porque não sou peixe", ironizou. Indagado se pediu demissão na semana passada, ele se esquivou. "Não posso dizer que pedi ou deixei de pedir demissão, porque isso um ministro não deve fazer. Um ministro deve sim cumprir o seu papel, e a decisão de mantê-lo ou tirá-lo é do presidente", argumentou. "Fica pretensioso dizer que pediu ou não demissão. Este não é o comentário de alguém que foi convidado a trabalhar pelo presidente da República." A notícia de que ele pedira demissão ao presidente Lula foi divulgada na última edição da revista Veja. Ontem, Aldo reiterou que não vê nenhuma revolta dos aliados e o que há é apenas uma preocupação com a consolidação da base. O ministro listou o que chamou de extensa agenda de aprovações no Congresso: reformas tributária e da Previdência, Leis de Falências e Biossegurança e Parcerias Público-Privadas. "Isso demonstra que a união de forças heterogêneas e a negociação com a oposição são caminhos corretos. E as dificuldades no entendimento são naturais ao exercício de qualquer atividade no País", disse. "Não vejo por que caracterizar negociações e disputas como crise. Esse é o caminho da democracia.'

Sobre a reunião que o presidente Lula pretende ter com a base aliada, Aldo afirmou que a questão não foi tratada com ele. O ministro insistiu ainda em que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), é um aliado que votou todas as matérias importantes, apoiando o governo. "É um homem que tem sempre suas opiniões. E, na democracia, é natural que nem sempre um deputado esteja de acordo com as opiniões do governo", ressalvou.

Severino irritou-se na quinta-feira com o veto de Lula ao reajuste salarial de 15% para os funcionários do Congresso. Aldo defendeu a medida ontem e disse que isso não vai provocar nenhuma crise no Legislativo. "O veto ocorreu porque não tinha amparo constitucional, já que não havia previsão orçamentária para a despesa gerada", reiterou o ministro, que visitou a Feira Internacional de Máquinas-Ferramenta (Feimafe), no Anhembi, em São Paulo.

Aldo defendeu a manutenção no cargo do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e do ministro da Previdência, Romero Jucá, até que as investigações sejam concluídas. Argumentou que investigações não são julgamentos e ainda não há decisão da Justiça que justifique a saída dos dois. "Você pode prejulgar e atingir uma pessoa que não tenha culpa. Portanto, o correto numa sociedade democrática em que não há prejulgamentos é aguardar a decisão final da Justiça. E eu acho que é isso o que o governo deve fazer."