Título: Desmatamento prejudica mil cidades
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Vida&, p. A26

RIO - O desmatamento e as queimadas prejudicam os moradores de cerca de mil municípios, diz a pesquisa em que os próprios prefeitos avaliam os danos ambientais nas cidades. Ao contrário do que se poderia imaginar, essas cidades não estão concentradas na Amazônia. Espalham-se por todo o País, mas em dois pontos chamam a atenção dos pesquisadores: o sul do Ceará e o oeste da Bahia. O avanço da agricultura é o grande responsável pela devastação: indica prosperidade econômica, mas significa a ampliação das queimadas para apressar a preparação da terra. Responsável pela análise dos dados de desmatamento e queimadas, o pesquisador do IBGE Judicael Clavelario Júnior apelidou de "Amazônia baiana" a região do Estado onde foram registradas as maiores queixas de devastação. "O oeste da Bahia tem sido ocupado por agricultores do Sul e de Minas, principalmente. Na região, está ocorrendo a derrubada de grandes áreas, em especial para o plantio da soja. É um processo rápido e muito parecido com o que ocorreu na Amazônia. Se não forem tomadas medidas agora, será muito complicado controlar depois", alerta. Segundo o pesquisador, as queimadas chegam até a beira dos rios. "As matas ciliares (que margeiam os rios) vão embora e as nascentes são destruídas. Os danos já chegaram a alguns afluentes do São Francisco, como o Correntina", lamenta.

Os municípios cearenses que registraram as maiores queixas ficam na região do Cariri, onde se repete o conflito entre produção agrícola e desmatamento. E não são só os questionários respondidos pelos prefeitos que atestam a destruição. Um mapa feito com base em fotos de satélite e publicado no Atlas Nacional do Brasil, do IBGE, aponta a gravidade da devastação. O Cariri está marcado por uma mancha negra, indicando que, em 2002, foram detectados entre 401 e 619 queimadas e focos de intenso calor por mil quilômetros quadrados, índice tão alarmante quanto o registrado no norte do Mato Grosso, um dos símbolos da devastação ambiental.

"No Cariri, a agricultura já está estabilizada há muitos anos, sempre com a prática das queimadas. Muitas vezes, é uma cultura de subsistência. Já no oeste da Bahia, o fenômeno é mais recente. Com a chegada dos agricultores de fora, a agricultura usa técnicas mais modernas. Estão sendo abertas grandes áreas no cerrado para cultura da soja e também pastagens, o que preocupa muito os prefeitos", diz Judicael.

Uma tabela elaborada pelo IBGE indica o peso do desmatamento e das queimadas nas queixas. O desmatamento está entre os três piores problemas de 18 Estados e as queimadas estão presentes em 14 como maiores causadores de danos. O estudo mostra que há regiões como o sul e o leste da Amazônia, o oeste baiano e o sul do Maranhão onde queimadas e desmatamento ocorrem nas mesmas áreas, pois há a derrubada da vegetação nativa, seguida da queima do material vegetal acumulado sobre o solo, para preparar o terreno para a agricultura.