Título: Poluição da água atinge 68% da população
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Vida&, p. A27

RIO - A água está no centro dos problemas ambientais do planeta e, no Brasil, os números indicam a gravidade dos danos causados pela falta de saneamento e pelas ações predatórias. Quase quatro (38%) em cada dez municípios brasileiros, onde vive 68% da população, tinham fontes de água poluída em 2002, principalmente por causa do esgoto jogado em rios e lagos. No Rio de Janeiro, a poluição da água atinge 77% das cidades. O assoreamento (obstrução do corpo d'água por argila, areia e lodo) de rios, lagos e lagoas e a poluição dos recursos hídricos são os dois prejuízos ao meio ambiente mais citados pelos prefeitos que responderam a pesquisa. Mais da metade dos municípios (53%) indicou a existência de assoreamento. No Rio de Janeiro e no Espírito Santo, quase 90% das cidades enfrentam o problema. Contaminação do solo, poluição do ar e degradação de áreas protegidas são os outros três impactos negativos mais citados.

Como se não bastasse a água disponível contaminada, outro drama enfrentado por muitos municípios é a escassez de água. Ela é a principal responsável pelos prejuízos à agricultura, citados por 1.919 municípios brasileiros. Também foi prejudicial à maior parte dos 1.315 municípios que declararam ter sofrido danos na atividade pecuária por causa de alterações ambientais. A erosão e o esgotamento do solo também foram fatores de peso para os danos nestas atividades.

ESGOTO

No país onde 47,8% dos municípios não tinham serviços de esgotamento sanitário, segundo o Censo 2000, e 44,7% dos domicílios não estão ligados à rede coletora, o esgoto a céu aberto é o pior problema ambiental. Foi apontado como fator poluente por 1.031 (46%) dos 2.263 municípios que declararam sofrer danos ambientais que atingem diretamente a população. Pelo menos outros 500 registraram problemas de poluições decorrentes do esgoto jogado na natureza em outras partes do questionário.

Uma das conseqüências mais dramáticas do saneamento deficiente é a mortalidade infantil, de crianças com até um ano de idade. O IBGE detectou 1.159 municípios com taxas alarmantes de mais de 40 mortes por mil nascidos vivos. Desse total, 1.086 estão no Nordeste, 48 no Norte e 25 em Minas Gerais. "Os municípios que têm as maiores taxas de mortalidade são também os que explicitam mais problemas de saneamento", diz a socióloga Sônia Oliveira, pesquisadora do IBGE.