Título: Nas cidades satélites, todos os maus exemplos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Vida&, p. A27

As cidades do Distrito Federal formam, juntas, um dos locais onde todos os problemas ambientais analisados pelo IBGE estão presentes. Composto por 19 regiões administrativas, entre elas Brasília, o distrito apresenta graves problemas como gestão indevida do lixo, poluição, desmatamento e escassez de água; porém, no cerne da questão está a ocupação irregular do solo, afirma o diretor do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB), Gustavo Souto Maior. "O plano piloto tem mais recursos e pessoas com mais recursos, mas também têm problemas." Segundo ele, a intensa produção de estudos sobre os ecossistemas e a ocupação humana do Distrito Federal tampouco a existência de uma legislação moderna, uma secretaria especial para o tema e diversos conselhos temáticos não impedem que os problemas apareçam e se proliferem. "O arcabouço político existe no papel. Planos não faltam. O que falta é cumpri-los."

Natural do Rio e morador de Brasília há 26 anos, Maior, de 50 anos, afirma que a ocupação desordenada do solo - conseqüência de anos de invasões e ocupações irregulares, "feitos à revelia da lei", afirma o especialista - são a causa dos demais problemas ambientais que o local enfrenta. Ele cita a Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São Bartolomeu, a maior do distrito e fonte virtual de água para 500 mil pessoas da região. Na época de sua implantação, em 1983, havia 15 parcelamentos irregulares; atualmente, o número ultrapassa 500. "Com isso, a captação da água foi totalmente inviabilizada", situação que forçou o governo local a buscar fontes externas.

O Distrito Federal é a unidade da federação que apresenta a terceira pior situação hídrica do País, atrás apenas de Pernambuco e Paraíba. Algumas cidades-satélites, como Sobradinho (com 128 mil habitantes) e Planaltina (com 147 mil), já sofrem com a falta de água no período de seca.

Outro problema agravado pela ocupação irregular do solo é o desmatamento. Um levantamento feito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) demonstra que desde o início da construção de Brasília, na década de 1950, até 2001 a região havia perdido 60% de sua cobertura vegetal original. "A antropização, ou seja, a presença do homem é muito forte e a ocupação do solo, muito rápida." O fim das áreas verdes é um dos motivos por trás dos casos de hantavírus que assustam a população local, transmitido por ratos silvestres que perderam seu hábitat e invadem a zona urbana atrás de dejetos.

Duas mil toneladas de lixo são produzidas diariamente no Distrito Federal, sem que exista um aterro sanitário adequado. Todo o material recolhido é lançado em um lixão localizado exatamente do lado do Parque Nacional de Brasília, que engloba as bacias dos rios Torto e Bananal, "colado ao plano piloto, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade", diz Maior. Também não existe um plano de coleta do lixo reciclável na capital federal.