Título: Papa apressa beatificação de Wojtyla
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Vida&, p. A30

O papa que fez o maior número de canonizações e beatificações na história da Igreja - 482 santos e 1.338 beatos - também está a caminho do altar. João Paulo II poderá ser beatificado mais depressa do que se previa. Seu sucessor, Bento XVI, anunciou ontem que dispensou a exigência de cinco anos de espera, contados a partir da morte, para o início do processo de beatificação. O papa Ratzinger, que trabalhou ao lado de João Paulo II por 23 anos, disse em reunião com o clero de Roma, na Basílica de São João de Latrão, que tomou a decisão no dia 28, atendendo a pedido do cardeal-vigário da diocese, Camillo Ruini. Os padres aplaudiram ao ouvir a notícia.

O fato de ter sido anunciada ontem aumentou o entusiasmo do arcebispo Stanislaw Dziwisz, secretário do papa polonês. "A Providência se serve também desses sinais", disse d. Stanislaw, ao lembrar que, há 24 anos, neste 13 de maio, festa de Nossa Senhora de Fátima, João Paulo II sofreu um atentado a tiros na Praça de São Pedro.

Na Polônia, o povo recebeu a notícia com sentimento gratidão. "É uma alegria extraordinária", comemorou o cardeal Franciszek Macharski, sucessor de Karol Wojtyla na arquidiocese de Cracóvia.

A dispensa do prazo de espera para abertura do processo atende ao clamor que se levantou nos funerais de João Paulo II, quando dezenas de faixas pediam que fosse declarado santo logo. "Santo subito", insistiam os devotos, em italiano e outras línguas. Mais de 50 cardeais, dos 115 que participaram do conclave, assinaram uma petição, entregue ao papa, para que se apressasse o processo de beatificação e canonização, "sem prejuízo das exigências previstas pelas normas da Congregação da Causa dos Santos".

O processo deve começar em breve, mas isso não significa que a beatificação seja imediata. Além de ouvir dezenas de pessoas que conviveram com Karol Wojtyla, os encarregados da causa terão de analisar tudo o que ele escreveu, antes e depois de ser eleito papa. João Paulo II deixou mais de 100 mil páginas escritas, em quase 26 anos de pontificado, só de discursos e documentos. Deixou também cartas, artigos e livros. Exige-se ainda um milagre, atribuído à sua intercessão, que deve ser analisado por peritos e médicos.

É impossível prever quanto tempo levará o processo. O mais rápido dos últimos tempos foi o de madre Teresa de Calcutá, que João Paulo II beatificou em 19 de outubro de 2003, seis anos após a morte e quatro após a concessão de dispensa para que a causa fosse iniciada logo.

Dos últimos papas, foi São Pio X aquele que mais depressa se tornou santo: morreu em 1914, foi beatificado em 1925 e canonizado em 1954. João XXIII, "papa bom", foi beatificado em setembro de 2000, pouco mais de 37 anos após a morte. Chegou aos altares com Pio IX, que morreu em 1878 e foi beatificado 122 anos depois.

Mesmo após a eleição de Bento XVI, os peregrinos e turistas que visitaram o Vaticano se mostravam mais interessados na imagem de João Paulo II. Além de fazer imensas filas para rezar junto a seu túmulo, na cripta da Basílica de São Pedro, compravam todo tipo de lembranças dele no comércio.

Giuseppe Ferrigno, um dos escultores mais conhecidos de Nápoles, já começou a produzir imagens de João Paulo II. O artesão é especialista em cenas natalinas e segue um estilo tradicional da cidade, criado no século 18. Em 1997, Ferrigno homenageou a princesa Diana, ao esculpir sua fisionomia em um presépio.