Título: Casamento relâmpago, até que a 1.ª rusga separe
Autor: Bárbara Souza, Juliana Bianchi, Luciana Garbi n e
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Metrópole, p. C4

Não deu outra. Ao saber do rompimento do jogador Ronaldo e da apresentadora Daniela Cicarelli, anunciado esta semana, a mãe da assistente de marketing Sabrina Bruniera, de 25 anos, comentou: "Ela conseguiu ganhar de você!" Sabrina se casou em fevereiro de 2003 e se separou em agosto. Uma união duradoura comparada com a do casal mais famoso do momento. Ronaldo e Daniela namoraram menos de um ano e ficaram casados 86 dias, depois de gastar R$ 2,2 milhões numa festa de contos de fadas no Castelo de Chantilly, na França. "Digo que não sei como ela (Daniela) ganhou de mim. Tenho de levar na brincadeira, né?"

O caso da anônima Sabrina e dos estelares Ronaldo e Daniela não são isolados (Veja ao lado). Já não se fazem casamentos como antigamente. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o número de casamentos desfeitos antes do primeiro aniversário aumentou dez vezes na última década - embora representem apenas 4,67% do total de separações.

Segundo o IBGE, o ano mais vulnerável é o décimo, mas aumenta o número de divórcios nos extremos - antes das bodas de papel (1 ano) e já perto das de prata (25 anos). Em 2003, o maior grupo de separados ficou casado por mais de 20 anos.

ME DÊ MOTIVO

Como é recorrente entre casais que se separam com tanta rapidez, Daniela e Ronaldo reservaram-se "o direito de não dar maiores detalhes sobre o episódio". Especula-se que o motivo tenha sido ciúme - de ambos os lados.

Sabrina alega vagos "fim do respeito e imaturidade". "Tive aquele casamento que toda noiva quer, com bolo, festa, para durar a vida inteira. Mas depois ficou tudo conturbado, com brigas que ninguém conseguia resolver." Problemas que já existiam no namoro de quatro anos. Mas, depois da troca de alianças, passaram do limite suportável.

"Meu pai nem viu a fita do casamento. Não deu tempo", conta. "Os presentes foram divididos: o que era dos meus convidados ficou para mim, o dos dele, para ele." À espera do divórcio e apesar da decepção, ela quer se casar de novo, "com certeza".

A comerciante Maria Sampaio foi ainda mais rápida. Casou-se em 9 de abril e deu entrada para anular o casamento em 2 de maio. Por que tão rápido? "Casei para durar bastante, mas três dias depois ele estava indo para a casa da mãe", reclama ela, que já teve outros dois maridos - o primeiro por 12 anos e o segundo por 10 - e é mãe de três filhos.

As brigas começaram já na festa, um dia depois da união civil. "Achei que ele já tinha bebido demais, tirei a bebida e ele foi dormir", diz ela. "Ele só dizia que o sonho dele era casar, prometeu ser homem, a família incentivava. Mas depois começou a dizer que sexo cansava e a me deixar sozinha para ir para a casa da mãe."

Se pensa em casar novamente? "Lógico. Mas vou pensar dez vezes antes. Para ser definitivo."

DEFINITIVO?

As novas gerações trocaram o diálogo, a crítica e a compreensão pela dissolução dos vínculos na hora de resolver os problemas, na opinião de Maria Rita Seixas, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal de São Paulo. "Os noivos se preocupam mais em fazer bonito na filmagem do que com a profundidade de significados." Para ela, namorados que se casam rapidamente tendem a se separar mais cedo. "Com pouco tempo para se conhecer, o vínculo se forma sobre fantasias e projeções que podem cair a qualquer momento."

O professor da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Antonio Carlos Amador Pereira enumera motivos sociológicos. "Antes a mulher se submetia a um casamento que não lhe agradava por insegurança, hoje ela trabalha fora, posterga a maternidade e cobra muito mais afeto", afirma. "Além disso, as pessoas tratam o casamento como uma roupa ou eletrodoméstico que, quando quebra, é mais fácil trocar", arremata Pereira.

O casamento do empresário Gustavo, de 30 anos, foi tão curto que um dos padrinhos nem se lembra do nome da noiva. Ele decidiu casar três meses depois do início do namoro, com a moça grávida de dois meses. Festa de R$ 20 mil com direito a igreja, 300 convidados, juiz de paz.

Dividindo o mesmo teto, Gustavo descobriu uma certa "incompatibilidade de gênios". "Saí de São Paulo para ganhar 1/4 do meu salário. Faltava grana e começaram as discussões." O filho nasceu e os dois já estavam se separando. Escolado, mora há um ano com a nova namorada. "Hoje eu sei que, para casar, tem de ter essa experiência, viver junto, conhecer melhor o outro."