Título: Lei proíbe, mas mais um bingo abre as portas em São Paulo
Autor: Gilberto Amendola
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Metrópole, p. C6

As autorizações de abertura estão canceladas desde 2000 e o negócio já foi alvo de operações do governo federal e do Ministério Público - sem contar diversas ações policiais -, se mantendo de forma precária por liminares judiciais em alguns Estados. Mas ontem um suntuoso bingo abriu as portas, na Avenida 23 de Maio, principal corredor de ligação da zona sul com o centro. Na porta, havia uma fila que logo garantiria lotação esgotada (cerca de 3 mil pessoas) em poucas horas - durante meses, o empreendimento foi anunciado por outdoors, com referências ao Imperador, outro bingo famoso da cidade, que fica na Avenida Sumaré.

Protegidas por sombrinhas, simpáticas senhoras, beirando a marca dos 90 anos, se aglomeravam na frente do Espaço Cultural Imperatriz 23. Queriam aproveitar a sexta-feira 13 para arriscar a sorte. "Fui a primeira a chegar. Nem dormi direito de ansiedade", confessou Maria Macedo, de 79 anos.

As aposentadas só se irritaram com a demora para a abertura da casa. "Tem gente passando mal. O sol tá de rachar", disse Maria Aparecida, de 67 anos. "O quê? Não pode entrar de bermuda? Sou freqüentador de bingo há anos e nunca passei por isso", disse Etori Santine Neto. Houve gritaria, palmas e até um ensaio de empurra-empurra. "Eu me sinto uma adolescente", brincava Laila Cury, de 50 anos.

Passava das 13 horas quando a entrada para o bingo foi liberada. São 3.500 m2 de área construída, com 3 pisos, restaurante (para 100 pessoas), cascatas artificiais, elevador panorâmico e centenas de maquininhas de jogo. A decoração foi inspirada na cultura africana. Elefantes, girafas, escudos, lanças e guerreiros tribais fazem parte da decoração.

Os primeiros clientes foram recebidos ao som de atabaques e danças exóticas. Houve reações de entusiasmo ao espetáculo. "Nem em Las Vegas se vê isso", dizia uma encantada cliente. Passado o primeiro espanto, todos se dirigiram para o segundo andar. Lá, haveria a primeira rodada de jogo da nova casa de bingo. Como a Imperatriz 23 estava cheia, houve confusão na porta do elevador e na escada. "As vovós são fogo", disse um paciente segurança.

CONTRA LEI

Nas mesas, o assunto era a paixão pelo jogo. Maria Barreta, de 89 anos, disse que gosta de jogar todas as tardes e teve períodos de depressão quando os bingos foram fechados, em 2004. As colegas de mesa, que prometem ser clientes assíduas, concordaram e lamentaram as ações contra o negócio.

Desde a sanção da Lei Maguito (9.981/2000), autorizações para a abertura desse tipo de casa estão canceladas. Os donos de bingos conseguem manter suas portas abertas graças a uma série de liminares e sentenças judiciais - que aumentaram quando o Senado derrubou, no ano passado, a medida provisória que proibia a exploração de bingos e caça-níqueis. Os proprietários alegam que são empregadores e arrecadam muitos impostos. Os Ministérios Públicos Federal e Estadual garantem que estão atuando para o fechamento desses locais.