Título: Francês rejeita ser chamado de protecionista
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Economia, p. B6

PERFIL: Corredor de maratonas, socialista e ex-banqueiro, Pascal Lamy é um dos negociadores comerciais mais conhecidos atualmente no cenário internacional. O francês, de 57 anos, ocupou nos últimos cinco anos o posto de comissário de Comércio da Europa e se tornou um personagem constante nas negociações envolvendo o Brasil, seja na Organização Mundial do Comércio (OMC) seja nos debates entre a Europa e o Mercosul. Suas posições, porém, foram sempre qualificadas pelos países emergentes como protecionistas, embora o francês rejeite tal argumento. Lamy é atualmente presidente de uma entidade de pesquisas em Paris e estudou na Escola Nacional de Administração da França, por onde passa a elite do país. Trabalhou como funcionário público e se tornou assessor de Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Européia. Nos anos 90, Lamy se tornou presidente do Credit Lyonnais, banco que acabou sendo privatizado no final da década passada. Seu cargo seguinte foi o de montar a estratégia comercial da Europa.

Curiosamente, recebeu críticas tanto dos países pobres como dos próprios membros da UE. De um lado, era acusado de não aceitar abrir os mercados europeus aos produtos agrícolas do Sul. Já os governos europeus o criticavam por ceder demasiado e pôr em risco a produção agrícola do Velho Continente. Lamy ainda sofreu duras críticas ao insistir na necessidade de a Europa rever seus subsídios. O francês, porém, nunca mencionou a necessidade de eliminá-los.

Jacques Chirac, presidente francês, teria hesitado em apoiá-lo para o cargo na OMC. Afinal, Lamy era socialista e visto como liberal demais pelos agricultores e eleitores de Chirac.

O francês ainda ficou conhecido por suas relações de amor e ódio com os EUA. De um lado, defendeu o fortalecimento das relações entre os dois grandes atores do comércio mundial. Mas seus anos como comissário também ficaram marcados pela abertura de importantes disputas comerciais contra Washington. Lamy questionou nos tribunais internacionais questões como os subsídios americanos à Boeing, o protecionismo no setor siderúrgico e o regime fiscal americano.