Título: Lamy é o novo diretor da OMC
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Economia, p. B6

GENEBRA - O próximo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) será o francês Pascal Lamy, ex-comissário de Comércio da Europa e que terá a difícil tarefa de completar a rodada de negociações da entidade lançadas em 2001. Em um processo permeado por muita pressão, Lamy superou o candidato uruguaio, Carlos Perez del Castillo, que na fase final do processo recebeu o tímido apoio brasileiro. Para o embaixador do Brasil na OMC e candidato também derrotado, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, o maior desafio de Lamy será responder às demandas dos países emergentes na reforma do comércio agrícola mundial. Com a vitória de Lamy, as três principais organizações internacionais relacionadas à economia - Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e OMC - voltam a ser lideradas por representantes de países ricos.

O governo brasileiro recebeu sem surpresas a vitória de Lamy. Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou para cumprimentá-lo e dizer que está plenamente confiante na sua contribuição para "o fortalecimento do sistema multilateral de comércio". Em sinal de paz com o futuro diretor-geral da OMC, o chanceler indicou também que o governo está disposto a trabalhar em conjunto para que a organização torne-se "mais democrática, transparente e receptiva" às demandas dos países em desenvolvimento.

O principal negociador brasileiro na OMC, embaixador Clodoaldo Hugueney, subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Itamaraty, afirmou ao Estado que agora resta ao Brasil o dever de dar "um voto de confiança" a Lamy e esperar a apresentação de seus planos de condução da OMC.

O MELHOR DE QUATRO

O processo na OMC foi iniciado com quatro candidatos. Além de Lamy, dos sul-americanos Castillo e Seixas Corrêa, o chanceler de Ilhas Maurício Jaya Cuttaree também participou da disputa. Lamy, porém, teve sempre o maior apoio nas rodadas de votação. Ontem, a presidente do Conselho Geral da OMC, Amina Mohamed, reuniu os 148 países da entidade para indicar que Lamy era quem mais atraia consenso. Perez del Castillo, o último concorrente que permanecia na corrida, aceitou se retirar. Agora, a OMC aprovará formalmente a nomeação do europeu no dia 26 para um mandato de quatro anos a partir de setembro, substituindo o tailandês Supachai Panitchpakdi.

"Hoje provamos que a OMC funciona", disse Amina Mohamed. Para Phillip Gros, o embaixador da França na OMC, Perez del Castillo "evitou uma confrontação" ao retirar sua candidatura.

De fato, a OMC respirava aliviada por ter evitado outra crise, como ocorreu em 1999. Naquele ano, os países não conseguiram chegar a um consenso. A solução foi dividir o mandato em dois e a confusão ainda contribuiu para o fracasso da reunião ministerial da OMC em Seattle, que ocorreu poucos meses depois das eleições. "Desta vez, temos um diretor para um mandato inteiro", comemorava Amina Mohamed.

A vitória de Lamy encerrou um dos episódios mais confusos da política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A resistência visceral do Itamaraty ao uruguaio Carlos Pérez del Castillo levou o governo a lançar, no final de 2004, seu próprio candidato. Apesar da campanha orientada para a busca dos votos dos países em desenvolvimento, Seixas Corrêa foi o primeiro a cair no processo de escolha, que acabou acusado de pouco transparente pelo Itamaraty.

Seja qual tenha sido o processo, a realidade é que o primeiro grande teste de Lamy como diretor será o de não permitir um novo fracasso da OMC em sua reunião ministerial em dezembro, em Hong Kong. O encontro tem como objetivo fechar um acordo sobre o ritmo que deverá ocorrer a liberalização dos mercados para os produtos agrícolas e industriais. Um entendimento sobre esses pontos ainda está longe de ser atingido e em parte por culpa da Europa.