Título: 'Empresas familiares são competitivas no Brasil'
Autor: Marina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2005, Economia, p. B15

As empresas familiares brasileiras estão entre as mais competitivas do mundo. É esta a constatação de John Davis, um dos principais especialistas em gestão familiar e professor da Harvard Business School, nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, ele já assessorou grupos como Pão de Açúcar, Votorantim e RBS. Davis, que coordena o programa de administração de empresas familiares em Harvard, esteve esta semana no Brasil, a convite da HSM Management, e concedeu entrevista exclusiva ao Estado, na qual destacou que pelo menos dois terços das empresas brasileiras são comandadas por famílias e falou de pontos importantes como escolha de sucessores, abertura de capital e comunicação interna. DESAFIOS

Davis cita três grandes desafios para as empresas familiares: competir de forma eficaz, manter o controle do negócio e passar a empresa para a próxima geração. Neste contexto, é preciso desenvolver padrões profissionais melhores, para que a companhia possa avaliar que tipo de estrutura de capital se encaixa melhor no seu modelo de negócio. "E isso, muitas vezes, significa que elas precisam abrir seu capital ou buscar outros parceiros", diz. Segundo Davis, reflexo desta necessidade de abertuea é que metade das empresas de capital aberto são controladas por famílias.

Na questão sucessória, o conselho de Davis é ter sempre clareza. Conforme o professor, as empresas familiares tendem a achar que seu próximo líder, necessariamente, será da família, mas nem sempre esta é a melhor escolha. "Estes grupos se beneficiam quando possuem os talentos certos na diretoria e conselho, o que quase sempre significa contar com profissionais de fora da família".

Segundo Davis, os negócios familiares preferem que parentes fiquem no comando, "mas quanto mais sofisticada a empresa, mais ela passa a entender a importância da objetividade na escolha de um presidente", diz. Neste sentido, as empresas brasileiras têm se saído muito bem, porque são cosmopolitas, sofisticadas, internacionalizadas e com bons processos de gestão. "O Brasil não tem um ambiente fácil de lidar, como o dos Estados Unidos, e se você dirige uma empresa de sucesso no Brasil, pode fazer isso em qualquer lugar do mundo", acredita.

COMPETIÇÃO

Para o professor de Harvard, muitos grupos familiares realmente já entendem que a competição cresce a cada ano e que precisam contratar os melhores profissionais para se manterem ativos. Também destaca a necessidade de planejar o futuro, comunicar internamente os desafios e planos estratégicos, além de possuírem bons planos financeiros e de divisão de capital.

Este último merece destaque porque, com o passar das gerações, o número de proprietários se multiplica. "As empresas precisam entender que a família tem que limitar o número de donos ou aprender a se organizar em grandes grupos". Geralmente, diz, os herdeiros se assutam quando percebem o número de pessoas donas do negócio e não se preparam para isso. Por isso, uma dos fatores mais importantes é criar acordos para venda de ações entre familiares. "Mas também tenho empresas clientes que possuem 200 donos. Elas aprenderam a gerir este grande número de donos, com a vantagem de que a companhia funciona praticamente como uma de capital aberto, mas com acionistas ligados por uma família e realmente leais ao negócio".