Título: Uma rede de sensores mede o pulso da Terra
Autor: William J. Broad
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2005, Vida &, p. A24

Nas terras selvagens das Montanhas San Jacinto, na Califórnia, nos Estados Unidos, cientistas estão transformando 12 hectares de pinheiros e madeiras de lei numa visão futurista do estudo ambiental. Os cientistas interligam mais de cem pequenos sensores, robôs, câmeras e computadores que começam a pintar um retrato extraordinariamente detalhado deste mundo, abrigo de mais de 30 espécies raras e em perigo de extinção. Grande parte dos instrumentos opera sem fio. Dispositivos do tamanho de um baralho medem a luz, a velocidade do vento, a quantidade de chuva, a temperatura, a umidade e a pressão e detectam um corpo quente ou a passagem de um vento frio pelo cânion. "É muito bom estar no mato com um laptop, conectar-se à internet e ver tudo em ação", disse o biólogo Eric Graham, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla). "É a visualização em tempo real de uma grande área. É a nova ciência."

Isso será espalhado de costa a costa do país, com redes de sensores somando mais de US$ 1 bilhão planejadas não só para a terra, mas também para lugares como o Rio Hudson e o Pacífico.

A rápida miniaturização das tecnologias de câmeras, celulares e computadores sem fio permite que cientistas construam redes inovadoras de pequenos sensores que, dizem eles, darão início a uma nova era de compreensão ecológica e eventualmente ajudarão a salvar o planeta.

"É tremendamente importante", afirma Deborah Estrin, diretora do Centro de Detecção por Rede Embutida da Ucla. Ela disse que os ganhos em conhecimento poderão rivalizar com os obtidos com a introdução de instrumentos como o microscópio. "Pense na MRI (imagem por ressonância magnética) e na CAT (tomografia axial computadorizada) e em seu impacto na ciência médica", disse Deborah. "É isso que buscamos."

Os cientistas esperam aprender mais sobre contaminadores do solo, mudanças na terra, fluxo de água, espécies invasoras, ciclos oceânicos, formação continental, armazenamento de carbono, erupções e os mecanismos pelos quais os vírus e fragmentos de genes se movimentam pelo ambiente.

O campo é novo. Mas especialistas dizem que testes bem-sucedidos como o estudo da floresta na Califórnia demonstram a promessa de redes que custam pouco se comparados com instrumentos em uso hoje, interligados por fios e linhas de energia. Nos próximos anos, os cientistas querem instalar milhões de dispositivos desse tipo em grandes áreas durante longos períodos, abrindo novas janelas para a natureza. "Com essa tecnologia, podemos entender o que é um evento e o que é normal. Estamos reconhecendo como os diferentes processos no ambiente operam em diferentes freqüências", explica Alexandra Isern, diretora de programas da Fundação Nacional da Ciência dos EUA.

Alguns locais serão permanentemente seguidos, com gravação de dados por longos períodos, diferentemente dos estudos de campo de verão ou das viagens de pesquisa oceânica de duas semanas. Tal continuidade é considerada vital para a melhor compreensão de como os humanos estão alterando o planeta. "É uma mudança completa num conjunto inteiro de áreas de estudo", disse Robert S. Detrick, cientista do Instituto Oceanográfico de Woods Hole, em Cape Cod. "O objetivo é a pesquisa em longo prazo do impacto temporal, climático ou humano."

A Fundação da Ciência, agência federal que financia pesquisa básica em faculdades e universidades, gastou mais de US$ 100 milhões nos últimos anos para fomentar o planejamento das novas redes de sensores. E prevê mais de US$ 1 bilhão para grandes projetos ecológicos, principalmente observatórios.