Título: Jefferson nega esquema de propina e culpa empresários
Autor: Christiane Samarco e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Em 41 minutos, num discurso pontuado por gestos teatrais e argumentação pouco convincente, o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), PTB, tentou defender-se das acusações de que comanda esquema de cobrança de propina na Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos (ECT) e outras estatais. Jefferson afirmou que viu Maurício Marinho, o autor da denúncia, "três ou quatro vezes", nenhuma delas nos Correios. Ele assegurou que Marinho nunca recebeu delegação do PTB para pedir recursos em nome do partido e, no final, colocou à disposição do governo todos os cargos ocupados pelo partido no governo federal. "Sempre tive fama de troglodita, mas nunca tive fama de ladrão", sentenciou Jefferson. Durante boa parte do discurso ele indicou que sua participação na "tropa de choque" do ex-presidente Collor lhe deu fama de "troglodita".

O deputado tentou desmontar a exatidão da denúncia publicada pela revista Veja, mas só conseguiu contestar passagens pouco relevantes da matéria. Disse ainda que o PTB é tão ético quanto o PT, e ele, tão ético quanto o presidente do PT, José Genoino, que declarou que "isso não acontece com o PT". Teatralmente, informou: "Vou descer da tribuna e assinar o pedido de CPI. Nada temo. O PTB não se preocupa com investigação."

Jefferson rebateu a acusação de que o PTB é fisiológico, listando os cargos que tem no governo: a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil, a vice-presidência da Caixa Econômica Federal, uma diretoria da BR Distribuidora, da Embratur, da Eletronorte e da Eletronuclear, além das Delegacias de Trabalho do Rio e de São Paulo. "Se o PTB tem 2 mil cargos (como afirmou a revista) não contaram para mim nem para a executiva nacional do partido", ironizou.

Advogado criminalista, Jefferson fez questão de registrar que não é o único citado no episódio. Segundo ele, o caso "envolve nomes de pessoas que são corretas, que são símbolos na nossa República". Ele usou como principal peça de sua defesa uma carta que recebeu pouco antes de subir à tribuna de Maurício Marinho (leia sobre a carta na página 6).

LUTA

Para Jefferson, a denúncia deve ser entendida como "uma luta que envolve interesses empresariais contrariados na diretoria dos Correios". E disse que a nomeação de Marinho não foi política, "porque ele é funcionário do P..." Depois de um ligeiro lapso, ele se recompôs, corrigiu o rumo do que queria dizer e concluiu a frase, denunciando o ato falho: "...dos Correios".

Seu discurso começou elétrico: tão logo subiu à tribuna, anunciou que iria distribuir a gravação em DVD completa da conversa de Marinho, deixando claro que a revista usou apenas parte da fita. Explicou que a gravação foi feita por "dois arapongas", habitués de negócios em estatais e denotando que tinha todos os detalhes da gravação, fruto, certamente, de um ajuste de detalhes com Marinho.

Contou que, levado por seu filho Roberto Júnior, um tal "comandante Molina" o procurou em Belém, apresentando-se como consultor da Fundação Getúlio Vargas. "Molina" relatou que sua empresa estava tendo problemas "com a diretoria do PTB" nos Correios. Ele teria dito a "Molina" que, como presidente de partido, não trata de negócios.

No início de abril, prosseguiu, um dos arapongas tentou vender-lhe a fita que depois seria usada na reportagem. Jefferson relatou que rechaçou a chantagem, dizendo, mais uma vez, que "não tratava de negócios".

Ao contestar denúncias de que usa os cargos que tem no governo para enriquecer ilicitamente, disse que tem apenas dois bens: uma casa que vale R$ 500 mil, em Petrópolis (RJ), e um escritório que vale R$ 100 mil no Rio.

Depois de confessar que já usou "revólver na cintura" e praticou tiro ao alvo, garantiu que mudou: "Hoje, melhorei, estou mais sereno, mais calmo. Minha auto-estima, subiu, fiz plástica", disse. Em lugar do revólver, hoje faz aulas de canto lírico.