Título: Oposição consegue assinaturas para abrir CPI dos Correios
Autor: Christiane Samarco e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Os partidos de oposição já conseguiram as assinaturas necessárias para apresentar o pedido de abertura da CPI dos Correios. No início da noite, parlamentares do PSDB e do PFL, que lideram a coleta, já tinham obtido 176 assinaturas de deputados e 38 de senadores, ultrapassando o número exigido - 171 na Câmara e 27 no Senado. A coleta de assinaturas continuará sendo feita até a manhã de hoje para garantir uma margem de segurança, como precaução para evitar um eventual movimento do governo de pressionar parlamentares de sua base para que retirem os nomes da lista. Os líderes da oposição vão apresentar hoje o pedido às Mesas da Câmara e do Senado. Por ser uma CPI mista, se for instalada, a comissão terá 15 deputados e 15 senadores como membros titulares. Terá ainda 15 deputados e 15 senadores suplentes.

Apesar da tentativa do governo de ainda abafar ou esvaziar a CPI, o saldo da terça-feira nervosa no Palácio do Planalto e no Congresso foi a conclusão geral, partilhada inclusive por líderes do governo, de que é inevitável a criação da comissão. No início, ela deve começar apurando o caso de corrupção nos Correios e pode estender as investigações a 18 estatais.

Sem nenhuma articulação mais forte do governo para barrar a CPI, o líder do PT, deputado Paulo Rocha (PA), passou o dia desautorizando a assinatura do PT porque "CPI é instrumento de disputa política que a oposição usa contra o governo". Ao mesmo tempo, o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), reafirmava que assinaria o requerimento e orientava os liderados a fazerem o mesmo.

No início da manhã, o líder do PP, José Janene (PR), alertava que era preciso conter o PTB do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), principal acusado no caso dos Correios, para inibir os independentes da base que ameaçavam assinar a CPI. "Se o PTB assinar, ninguém segura essa CPI", dizia Janene, recomendando cautela aos correligionários. Àquela altura, porém, até o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), já havia avisado ao Planalto que seguiria seu partido no apoio às investigações.

SOLIDARIEDADE

Alertas à parte, só no início da noite os parlamentares começaram a suspeitar de uma atuação tardia do governo. O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), passou a telefonar para os liderados com apelos para que não assinassem ou retirassem o apoio. Mas isto, depois de o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar (PL), ter se manifestado favorável à investigação dos fatos.

"Eu já achava que a CPI deveria ser feita, mas estava aguardando a reunião da bancada", contou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) no fim da tarde. "O problema é que o discurso que o Jefferson fez, assinando o requerimento na tribuna, viabilizou a CPI", conclui. "Essa CPI já tinha saído", contestou o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF). E contou com o apoio de 13 petistas das correntes de esquerda.

Quando o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, apareceu na Câmara para assistir ao discurso do petebista, os aliados já sabiam que sua presença não significava nenhuma operação para abortar a CPI. Era uma manifestação de solidariedade ao aliado, partilhada pelo senador petista Eduardo Suplicy (SP), que procurou Jefferson para um abraço. "Vim saber da sua posição, pois o PT vai reunir a bancada no Senado agora à noite e sua conduta será muito importante para nós", disse o senador ao deputado, que lhe confirmou a assinatura.

"Manobras do governo para abortar a CPI agora não funcionam. Se não for instalada, a crise política vai piorar e o governo será ainda mais atacado", avaliou o ex-líder petista na Câmara Walter Pinheiro (BA).