Título: Eunício e Renan são também citados em fita
Autor: Expedito Filho e Odail Figueiredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - Na fita em que cita o presidente do PTB, Roberto Jefferson, como chefe do esquema nos Correios, o ex-chefe de Departamento de Contratação e Administração Maurício Marinho cita também políticos do PMDB, entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o ministro das Comunicações, Eunício de Oliveira. Segundo Marinho, são amigos do folclórico político Antônio Pedreira - ex-candidato à Presidência e a cargos eletivos no Rio -, que hoje atua como operador de empresas interessadas em fazer negócios com os Correios. Na gravação de 1h56, Marinho cita outros nomes. Conta que Pedreira "é uma pessoa que tem relacionamento muito bom com o presidente (dos Correios, João Henrique de Almeida), o Roberto Jefferson, o Renan Calheiros e é muito amigo do ministro (das Comunicações) e do secretário-executivo (do ministério) Paulo Lustosa".

Segundo ele, Pedreira é o homem dos recados, uma espécie de pombo-correio daqueles políticos. "Ele traz recado e a gente liga direto para a pessoa. Dá pra fazer, a gente faz. Não dá, não faz. Temos alguns princípios. Tem de ter produto e bom preço de mercado. A gente tem de trabalhar para que a coisa flua, aconteça como se espera."

Na gravação, os dois empresários ou arapongas começam a filmar antes de chegar à portaria dos Correios. Falam com a recepcionista, entram, tomam o elevador, saem e seguem para a sala de Marinho; entram, Marinho lhes entrega o seu cartão funcional e os convida a sentar à mesa. A conversa logo começa (os dois arapongas são identificados como X1 e X2):

X1 - Vou apresentá-lo, rapidamente. Dr. Paulo Marcos (?) é diretor-executivo da empresa para o Brasil (Diz que a empresa vende computadores compatíveis com os da IBM, trabalhou nos EUA e o Brasil passou a interessá-la). Nosso principal concorrente sempre pensa em entrar nas mesmas concorrências antes de nós... Diz que o Correio é a única instituição 100% aceita no mercado. Se a gente pega a nível nacional uma marca como o Correio, temos meio caminho andado (Diz que chegou a Marinho porque tem a informação de que é uma pessoa correta).

X1 - Estou voltando para a Alemanha e preciso de uma informação (...). Preciso ter certeza das coisas e precisamos... de algumas coisas que a gente vai conversando ao longo de nossa reunião... Basicamente, Marinho, a gente quer uma pessoa para conversar...

Marinho - Esta semana é decisiva. Deve ter uma alteração muito grande na composição dos Correios (inaudível), no nosso caso nós temos a Diretoria de Administração... Todos os processos passam por aqui... Há uma interface muito grande... Politicamente deve estar sendo designado um novo diretor de Tecnologia. Esse novo diretor é da nossa configuração. Já está acordado que ele assumirá a nova Diretoria de Tecnologia... A informação que recebemos do presidente do partido (inaudível)...

X1- Esse diretor tem nome?

Marinho - É o Ezequiel, ele é do nosso partido.

X1- O partido é...?

Marinho - O PTB. O nosso presidente é o Roberto Jefferson.

Em outro trecho, Marinho diz que cada diretoria tem seu homem para cuidar de licitações e na de Administração, é ele. Relata também quanto é a propina e como funciona a partilha na empresa.

X1- Existe algum número que vocês costumam tratar?

Marinho - Existe. Quando é pregão com alta concorrência, é coisa pequena, 3% a 5%. Esses 5%, em alguns casos, tem de subir três (para a diretoria), ficam dois. Quando é serviço, é em torno de 10%. Quando é consultoria, é ajustado antes. Senta, conversa...

X2 - Quando é serviço, desses 10% sobe quanto?

Marinho - De seis a sete sobe para cima. Lá tem a composição deles. Eu não fico nem sabendo.

X1 - Para efeito dessa licitação na área de informática, como podemos objetivar os acertos?

Marinho - Nós vamos ouvir os fornecedores e criar um banco de dados (...). Em cima da composição do seu produto, como aconteceu com a Novadata. A Novadata entregou o lote dos últimos kits e aí acelerou o valor do dólar e houve desentendimento com o Correio. A pedido deles e da diretoria, eles foram lá com Osório. O Osório me chama e mandei uma equipe estudar a evolução no Banco Central (...). Verificamos que havia um valor que poderia ser pago. Fizemos, emitimos parecer e quando chega ao diretor toda blindagem é feita. Leva para ele com despacho do presidente, autoriza, vai para o Departamento Jurídico para ver se tá tudo legal, emite e diz: fulano faz a nota fiscal.

X1 - A Novadata acertou tudo com a diretoria ou com você?

Marinho - Foi direto com a diretoria. Eu, o diretor e Godoy.

X1 - Acertaram com Osório?

Marinho - Não, Osório não acerta. É comigo ou com Godoy.

X1 - Por que o Osório não?

Marinho - Ele colocou a gente para fazer essa parte. Somos três fechados no partido. É o estilo dele (...) Ele permanece (...) Ele é o homem do Roberto Jefferson.