Título: Lula diz a líderes que não julga presidente do PTB
Autor: Tânia Monteiro e Leonêncio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu ontem em defesa do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), acusado de participar de um suposto esquema de cobrança de propina nos Correios. Lula abriu o almoço com os líderes da base aliada, no Palácio do Planalto, avisando que Jefferson tem a sua "solidariedade" e pediu ao líder do PTB, José Múcio (PE), que transmitisse isso a ele. "Precisamos ter solidariedade com os parceiros", declarou o presidente, acrescentando que "não se pode condenar ninguém por antecipação" e que a relação do governo com o PTB não muda. A solidariedade de Lula a Jefferson foi confirmada pelo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Depois do pronunciamento, a avaliação no Planalto era de que o deputado se saíra bem e suas explicações foram convincentes. Além de convincente, houve quem traduzisse sua fala como tranqüilizadora. Mas todos aguardam a completa apuração dos fatos para poder emitir completo juízo de valor.

"Ninguém pode ser condenado de forma antecipada sem que os fatos sejam averiguados", disse Lula, segundo o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), no início do almoço, ao comentar o noticiário dos últimos dias. Na conversa, o presidente lembrou que ele destacava isso porque ele mesmo já foi vítima de prejulgamento. Lula, ainda segundo Casagrande, lembrou que Jefferson vai poder ver agora quem são seus "verdadeiros amigos".

Reportagem da revista Veja desta semana transcreve um vídeo em que o então diretor dos Correios, Maurício Marinho, teria dito que Jefferson comandava na ECT um esquema de cobrança de propinas. De acordo com os líderes, em nenhum momento do almoço com Lula se tratou do pedido de CPI apresentado por senadores da oposição para investigar a denúncia.

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que também participou do almoço com os líderes, foi para o Congresso acompanhar, do plenário da Câmara, a defesa do deputado Jefferson, ao lado do líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Roberto Jefferson é considerado um aliado fiel do governo e o seu pronunciamento na Câmara foi feito dentro do esperado pelo Planalto.

Apesar de auxiliares do presidente estarem cientes do que Jefferson ia dizer e insistirem que não é possível prejulgar, havia uma grande expectativa em relação ao que seria apresentado e se ele seria convincente. Desde domingo, o deputado já vinha informando a todos no governo qual ia ser a linha de sua defesa.

Tinha reiterado que foi involuntariamente envolvido nas denúncias de que haveria um esquema de cobrança de propina nos Correios e rechaçou qualquer ligação com o caso, afirmando que o funcionário agiu por conta própria, tentando envolvê-lo para dar mais valor ao serviço que pretendia vender.

Antes da fala de Jefferson, Aldo disse que a criação da CPI para investigar denúncias da existência do suposto esquema de propinas nos Correios é uma questão dos líderes e partidos, e não de governo. "As pessoas, quando são acusadas, devem ter o direito de se defender", disse, acrescentando que "esta é uma regra importante da democracia e dos direitos".