Título: Um dia de tiros, bombas e fúria em Rondônia
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Nacional, p. A11

PORTO VELHO - Tentativa de invasão, tiros disparados para o alto e explosão de bombas de gás lacrimogêneo e de fabricação caseira interromperam na tarde de ontem a primeira sessão da Assembléia Legislativa de Rondônia após a divulgação de gravações de deputados estaduais pedindo propina ao governador Ivo Cassol (PSDB) levadas ao ar no último domingo, em reportagem do Fantástico, da TV Globo. A sessão foi iniciada às 15h, com as galerias e o auditório lotados e as portas da frente fechadas porque já não cabia mais ninguém. Enquanto isso a multidão continuava a se aglomerar em frente à Assembléia. Quando os primeiros deputados entraram no plenário, as pessoas que tomaram conta do auditório começaram a se agitar. Os parlamentares que apareceram nas gravações eram vaiados e o público gritava "quadrilha".

A deputada Ellen Ruth (PP), que apareceu na gravação explicando ao governador como funciona o esquema de corrupção, quase não conseguiu ler a ata da sessão anterior. Só conseguiu terminar a leitura após intervenção do presidente da Assembléia, Carlão de Oliveira (PFL).

Às 15h30 a multidão que estava do lado de fora quebrou a pedradas as portas de vidro e invadiu a Assembléia, sendo contida pela Polícia Militar. Os deputados nem deram a sessão como suspensa.

Deixaram rapidamente o plenário, enquanto funcionárias do Legislativo choravam e gritavam.

Do lado de fora, a situação esquentou quando um manifestante estourou uma bomba de fabricação caseira. A Polícia Militar reagiu disparando para cima e atirando bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Havia cerca de duas mil pessoas. Três crianças que freqüentavam uma escola de ensino fundamental em frente à Assembléia, desmaiaram durante a confusão.

Mesmo quando a multidão deixou o local a PM permaneceu, para evitar nova tentativa de invasão. O chão ficou cheio de pedaços de vidro e "cédulas" de R$ 50 mil, valor mensal que os deputados pediram ao governador nas fitas exibidas em troca de apoio. No verso de cada cédula havia o aviso de que a validade era somente para compra de deputado corrupto.

Em seguida o grupo invadiu o Palácio Presidente Vargas, sede do governo. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) havia passado a comandar o protesto e de um carro de som dirigentes sindicais pediam para que a multidão não quebrasse mais nada.

Um grupo conseguiu rapidamente tomar toda a escadaria da sede do governo, estendendo faixas chamando deputados de corruptos. Do carro de som, dirigentes da CUT citavam os nomes dos deputados Amarildo Almeida (PDT), Kaká Mendonça (PTB), João da Muleta (PMDB), Ronilton Capixaba (PL), Daniel Neri (PMDB), Emílio Paulista (sem partido) e Ellen Ruth, os que apareceram na reportagem. A cada nome a multidão gritava "ladrão". Por último, os dirigentes passaram a dizer o nome de Ivo Cassol. A multidão continuava gritando "ladrão, ladrão".

O protesto em frente ao Palácio Presidente Vargas durou cerca de 40 minutos, mas não foi visto pelo governador, que viajou no final de semana. Segundo sua assessoria, ele estaria ontem em Brasília e depois seguiria para São Paulo, mas não entregaria mais as cópias das fitas ao ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos.