Título: Lula diz que está em dívida com os sem-terra
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Nacional, p. A13

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu na noite de ontem, em reunião com líderes do Movimento dos Sem-Terra (MST), que o governo está em dívida com a reforma agrária. Em encontro de 3 horas no Palácio do Planalto, Lula avaliou que a atuação da entidade é "correta", mas não recebeu dos sem-terra garantia de trégua no campo. O governo evitou anunciar se aceitaria ou não propostas do movimento. "Jamais vou pedir ao MST que deixe de lutar e reivindicar", disse Lula, segundo os líderes sem-terra Roberto Baggio e Jaime Amorim. Ao entrarem na sala da reunião, os sem-terra disseram ao presidente que estavam "decepcionados" com o governo. "As coisas não podem ser feitas da maneira que vocês querem", teriam ouvido como resposta do presidente.

Na reunião, Lula teria assegurado, de acordo com lideranças do MST, que vai contratar até o final do mandato mais 1.300 funcionários para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), enviar MP ao Congresso até 31 de maio liberando R$ 700 milhões para novos assentamentos e mudar os índices de produtividade, o que facilitaria desapropriações de terra com interesse social. Em entrevista, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, não confirmou promessas. "Não há nenhum ponto decidido, só avaliaremos amanhã (hoje) o que se discutiu na reunião", ressaltou. Embora não tenha confirmado que Lula tenha dito estar em dívida com a reforma, Rossetto admitiu que cumpriu apenas 81% das metas de 2004.

Os líderes do MST avaliaram que apenas parte das reivindicações foi atendida e, por isso, já anunciam o pós-marcha, com novas mobilizações. Roberto Baggio e Jaime Amorim disseram que a marcha para Brasília foi uma vitória histórica do movimento e chamou a atenção para o problema da reforma agrária.

Hoje, os líderes do MST fazem assembléia em Brasília para discutir pontos tratados na reunião com Lula. Além de Rossetto, o encontro no Palácio contou com a presença do ministro José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral). O MST ainda pediu ao governo aumento do crédito de habitação nos assentamentos de R$ 5 mil para R$ 7 mil e a concessão de linha de crédito para novos assentamentos. "O problema de orçamento não é nosso, é do governo", disse Jaime Amorim.