Título: Sinal amarelo para os juros. E a impaciência é do próprio governo
Autor: Sheila D'Amorim, Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2005, Economia, p. B4

A persistência da inflação e o risco de haver, esta semana, mais uma alta na taxa de juros acendeu sinais amarelos por todo o governo. Mas não se trata de fogo amigo no formato tradicional. De onde menos se esperava - a própria equipe econômica - surgem sinais de impaciência com a mão pesada do Banco Central (BC) na condução da política monetária. A preocupação atinge também a área política. "O presidente esqueceu de 2006, olhando para 2010", disse um ministro da área econômica. É sob essa pressão, para encontrar alternativas de combate à inflação que não sejam apenas subir a taxa de juros, que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, mudará a equipe amanhã, com a chegada de Murilo Portugal, o "Doutor No". Uma das missões dele será afinar o trabalho do Ministério da Fazenda com o Banco Central.

A política de juros altos, desde há muito criticada por empresários e pelo vice-presidente, José Alencar, passou a ser atacada pela equipe econômica por causa dos fortes impactos que tem sobre a dívida pública.

Cada vez que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleva a taxa de juros, está também elevando o custo de 56,98% da dívida pública federal em títulos. Só em março, o governo federal gastou R$ 9,984 bilhões com juros. Essa despesa joga por terra o sacrifício feito com o aperto de gastos em outras áreas do governo.

ESTRAGOS

Já na área política, a preocupação é com os estragos eleitorais que podem já estar sendo produzidos. A avaliação é que os sacrifícios impostos pelos juros altos às contas públicas e à economia em geral, que dá sinais de esfriamento, são, ainda por cima, em vão. O Copom vem subindo a taxa de juros há oito meses e a inflação não dá trégua.

"Estão usando antibiótico para matar vírus e antibiótico é para bactéria", comentou um ministro.

Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou sua angústia, ao afirmar que um dos erros de seu governo foi centrar na política de juros o combate à inflação. Na busca por soluções que aliviem a inflação sem passar pela alta dos juros, surgem sugestões de todo tipo.

IDÉIAS

Circularam, na semana passada, rumores sobre um "pacote" que mexeria nos preços administrados - um dos focos de resistência da inflação.

Segundo um integrante da área econômica, a idéia seria pressionar as concessionárias de serviços como energia e telefonia a concordarem com reajustes menores. Para isso, o governo poderia recorrer a instrumentos heterodoxos como, por exemplo, colocar a Receita Federal no encalço das menos cooperativas.

Essa idéia, porém, foi descartada no Ministério da Fazenda. "Há contratos e os contratos serão respeitados", afirmou um assessor direto do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Não tem mágica."

As tarifas dos serviços públicos são reajustadas, em sua maioria, pelo Índice Geral de Preços (IGP). Desde o governo passado já se havia concluído que esse não é um bom indexador, e desde então estão em negociação a troca de índices de correção pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou índices específicos do setor. Essa troca, no entanto, será feita no vencimento dos contratos.

Outra idéia para relativizar o peso da equipe econômica nas decisões dos juros será discutida nesta semana, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). A idéia é aumentar o número de integrantes do Conselho Monetário Nacional (CMN), que fixa as metas de inflação. O Copom sobe ou desce os juros conforme o necessário para atingir essas metas. Hoje, o CMN é composto só por três pessoas: o ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. A proposta é elevar a até nove o número de integrantes do CMN, para acrescentar a visão de outros setores nessas decisões.