Título: Máquina de escrever resiste ao PC
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2005, Economia, p. B6

O diretor da Facitrade International, Osvaldo Souza Jr., só preenche notas fiscais em sua máquina de escrever mecânica. Não se trata de fobia às novas tecnologias, mas uma forma de prestigiar seu principal produto comercial. Pode até parecer absurdo, mas em plena era digital ainda existe mercado para a velha máquina de escrever. O produto, símbolo da obsolescência nos escritórios, ainda é vendido no Brasil. Mas faz sucesso mesmo é em países pobres da África, Ásia e América Latina. E foi graças às exportações que a fábrica da Facit, em Juiz de Fora (MG), conseguiu sobreviver ao avanço dos computadores pessoais. A fabricante de máquinas de escrever da Zona da Mata mineira, dona da marca de origem sueca, instalada há mais de meio século no Brasil, é uma das últimas no mundo.

Dívidas trabalhistas e a atual taxa de câmbio continuam desafiando a resistência da unidade. Em 2004, a empresa foi obrigada a leiloar imóveis e grande parte do maquinário para quitar débitos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A desvalorização do dólar foi um golpe duro e alijou a Facit do mercado internacional.

No ano passado, a empresa vendeu cinco mil máquinas no exterior, ao preço médio de US$ 140. Nesse ano, os embarques somam apenas US$ 100 mil, segundo Souza Jr., ex-diretor comercial da Facit, área que há cinco anos foi terceirizada. As últimas máquinas exportadas, em fevereiro e março, foram para as Filipinas e Moçambique. Há poucos dias, ele recorreu ao produto indiano para atender a um pedido de Moçambique.

"Essa máquina na Índia custa US$ 98. No Brasil, para ser viável, o preço tem de ser US$ 180. O custo, que era de US$ 125, agora é de US$ 161. Com esse dólar e com o aumento do aço, principal custo, a Facit está fora do mercado internacional." Além da fábrica de Juiz de Fora, existem apenas outras três no mundo - duas na Índia e uma no México - que ainda produzem máquinas de escrever.

Nos últimos dois anos, a Indonésia foi o principal mercado. "Falta energia na maior parte do país e não dá para usar computador." Por incrível que pareça, o mercado brasileiro ainda compra cerca de quatro mil máquinas por ano. Eram cerca de 40 mil nos anos 80. Na época, eram três grandes fabricantes - além da Facit, Remington (RJ) e Olivetti (SP). Os principais clientes hoje são delegacias, bancos e transportadoras. O preço no mercado interno é de cerca de R$ 450.

A tradicional fabricante sueca chegou ao Brasil em 1952. As exportações chegaram a US$ 8 milhões ao ano, com clientes em mais de 100 países. Foi adquirida pela Electrolux e revendida em 1986 ao grupo Machline, dono da antiga Sharp. Em 1995, cerca de 450 dos 700 empregados decidiram criar uma cooperativa - a Juiz de Fora Participações - e adquirir a unidade industrial. Para isso, conseguiram um empréstimo de R$ 5 milhões do BNDES.

Apesar do sucesso crescente nas exportações - em 1999 foram US$ 50 mil, em 2000, US$ 120 mil, e em 2001 chegou a US$ 1,2 milhão -, o rombo provocado pelo passivo trabalhista, a dívida com o BNDES e outros credores levaram à execução judicial dos bens da empresa. O maquinário e o terreno foram arrematados em leilão por R$ 1,228 milhão - aproximadamente a metade da avaliação inicial de R$ 2,475 milhões - no dia 14 de julho de 2004 pela Erg Participações, uma administradora de bens e negócios.

Desde o final do ano passado, a Facit - agora com apenas 30 funcionários - virou inquilina da nova proprietária do espaço físico. O letreiro com o nome da marca de origem sueca foi retirado.