Título: Consumidor ainda acha um pouco estranho
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2005, Economia, p. B7

Falar com um computador de mão está longe de ser natural

Na semana passada, a produtora cultural Ana Helena Curti resolveu comprar um computador de mão. Ele chegou a analisar a alternativa de telefones inteligentes, mas achou estranho, apesar da praticidade de carregar um dispositivo só no lugar de dois. "É como se fosse um sapato que você põe no ouvido", disse Ana Helena. "Todo mundo vê o celular quando está na orelha. Ele tem que ser pequeno." Além do problema do design, apontado por Ana Helena, ainda existem questões técnicas a serem resolvidas, na visão dos consumidores mais exigentes. "É impossível ser bom em tudo", afirmou o empresário Beni Kuhn. "Ainda não encontrei nenhum aparelho que atenda bem os dois lados." Ele referiu-se ao lado da computação e ao lado da telefonia.

Kuhn usava um celular inteligente, que quebrou há quatro meses. Com dificuldade de achar peças para consertar o aparelho importado, o empresário resolveu passar a usar um computador de mão que se comunica com o celular, usando uma tecnologia sem fio chamada Bluetooth. Ele lê os e-mails no celular e, quando precisa escrever alguma mensagem, usa o computador de mão, que acessa a internet pelo telefone móvel. Aficionado por tecnologia, Kuhn está sempre buscando novidades. De quanto em quanto tempo troca de celular? "A cada 3 ou 4 meses", respondeu.

A participação dos telefones inteligentes nas vendas de celulares no Brasil ainda é muito pequena. Sílvio Stagni, vice-presidente da Sony Ericsson, calcula que os smartphones vão responder por 0,5% dos cerca de 30 milhões de celulares que serão vendidos no País. Ou seja, perto de 150 mil aparelhos.

Na visão do executivo, nos próximos dois anos os celulares inteligentes vão ter um peso cada vez maior no varejo, como produto de entretenimento. "Isto aconteceu na Europa", afirmou Stagni, citando o exemplo de P900, precursor do P910i, smartphone que hoje a companhia comercializa no País. Lançado para atender aos clientes corporativos, fez sucesso com adolescentes. "Ele acabou atingindo um mercado que não esperávamos."

No ano passado, a Motorola lançou um celular com Windows, chamado MPX 220, que permite sincronizar o correio eletrônico com o computador de mesa (ou notebook) que use o sistema da Microsoft. O MPX 220 não tem teclado alfanumérico. Até o fim do ano, a empresa planeja lançar um novo modelo, com teclas para letras, também com Windows. "Temos várias opções de plataforma, que vamos trazer no ano que vem", explicou o diretor de Produtos da Motorola, Marcelo Guimarães. Entre as opções estão aparelhos com Linux, principal concorrente do Windows, e com Blackberry, uma plataforma de grande sucesso para e-mail no celular.

O analista Denis Gaia, da empresa de pesquisas IDC, apontou que as vendas dos computadores de mão já estão caindo no mercado internacional, enquanto a demanda por celulares inteligentes explode. "Isso vai acontecer também aqui, em um ano e meio ou dois", explicou, acrescentando que este é um dos motivos que levam os fabricantes a lançarem os micros de bolso com novas funcionalidades, como celular ou tocador de música digital. "O equipamento por si só vai morrer, vai se transformar em outras coisas." O mercado brasileiro, porém, ainda está bastante aquecido, pelo menos por enquanto. "De 2003 para 2004, a venda de handhelds aumentou 51,8%", apontou Gaia. "Para este ano, a expectativa de crescimento está em 18,5%."