Título: Telefone ou micro de bolso? Os dois
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2005, Economia, p. B7

Isso sim é convergência. Ao mesmo tempo em que os celulares ganham cada vez mais capacidade de processar e armazenar dados, os computadores de mão passam a se comunicar sem fio. Por este mercado, concorrem fabricantes vindos do mundo da informática e das telecomunicações. "Já vemos o mercado como um só", afirmou Fiore Mangone, gerente de Produtos e Desenvolvimento de Negócios da Nokia. "A competição é cada vez mais acirrada." No Brasil, o mercado ainda é pequeno. Mas, com o crescimento da base de telefones celulares e a queda de preços dos aparelhos com recursos mais sofisticados, isso é só uma questão de tempo. Foram vendidos 600 mil computadores de mão, também chamados de handhelds, e 400 mil celulares inteligentes, ou smartphones, em 2004 na América Latina. Para 2007, a previsão é alcançar 2 milhões de celulares inteligentes e 700 mil computadores de mão. Em todo o mundo, devem ser vendidos 100 milhões de smartphones para 18 milhões de handhelds daqui a dois anos.

O principal obstáculo ainda é o preço, principalmente no que diz respeito aos celulares inteligentes. "Estamos avaliando fabricar aqui o Treo 600", afirmou o vice-presidente da PalmOne no Brasil, Alexandre Szapiro, sobre o smartphone da empresa. Para o executivo, a popularização do computador de mão no Brasil começou há dois anos, quando a PalmOne iniciou a fabricação local. A empresa tem hoje modelos a partir de R$ 399, vendidos em grandes varejistas, como as Casas Bahia. Szapiro espera repetir a experiência com os celulares inteligentes.

O celular de mão surgiu como uma ferramenta de produtividade, usado no ambiente empresarial, e se tornou um dispositivo de entretenimento. Mesmo no Brasil. Os celulares inteligentes, no entanto, ainda são direcionados ao mercado corporativo. A TIM lançou em janeiro o Blackberry, da Research In Motion, mas só para clientes empresariais. Com mais de 2 milhões de usuários em todo o mundo, atendidos por mais de 75 operadoras, o Blackberry funciona como um celular para texto, com teclado alfanumérico, que permite troca de mensagens de correio eletrônico, leitura de páginas de internet e arquivos Word, Excel, Powerpoint e PDF.

A opção das operadoras pelo mercado corporativo começa a levar os varejistas a comprarem os celulares inteligentes direto dos fabricantes. Como na tecnologia GSM, usada por todas as operadoras brasileiras menos a Vivo, as informações do cliente ficam armazenadas num pequeno cartão com chip, que pode ser transferido de um aparelho para outro, as lojas podem fechar acordos mais livres com os fabricantes, vendendo aparelhos em chip.

"As operadoras têm foco muito forte na baixa renda", explicou o diretor comercial da Fnac, Eric Bl¿sch. "Tivemos experiências catastróficas com produtos mais sofisticados, com problemas de abastecimento e políticas de preços ruins. Para as operadoras, eles são complemento. Para nós, são o que importa." Bl¿sch considera o mercado de smartphones "quase inexistente". Mas isso começa a mudar. Para o fim do ano, ele espera ter pelo menos mais três modelos na loja, fabricados pela HP. "Ainda não decidimos quais e quantos modelos lançaremos", afirmou Cristina Palmaka, vice-presidente de Computação Pessoal da HP. "Mas definimos que este será o ano da mobilidade."