Título: IGP-10 zero é o melhor resultado em 22 meses
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Economia, p. B4

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços -10 (IGP-10) de maio registrou variação zero, ante alta de 1,17% em abril, o menor resultado em 22 meses. A inflação de maio contou com um acentuado recuo nos preços no atacado. "Houve uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas, de -3,37%, que foi a mais intensa desde maio de 1999", disse o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Mesmo com o bom resultado geral, a inflação do varejo ainda preocupa, pois atingiu em maio o maior resultado desde abril de 2003, com o Índice de Preços ao Consumidor -10 (IPC-10) passando de 0,75% em abril para 0,93%. Não foi suficiente para mudar o saldo total, já que o IPA-10, que tem maior peso no cálculo, passou de alta de 1,43% em abril para queda de 0,43% em maio, também o menor resultado desde julho de 2003.

O período de coleta do IGP-10 foi do dia 11 de abril a 10 de maio.

Para Quadros, entre os fatores que levaram ao recuo na inflação estão a apreciação do real frente ao dólar, que puxou para baixo os preços de produtos direta ou indiretamente relacionados à moeda americana, e o término do choque dos preços agrícolas no atacado, causado por problemas climáticos.

"Mas o fator preponderante no recuo foi provocado mesmo pelos agrícolas", disse o economista da FGV. Os preços nesse setor passam por um ajuste, visto que subiram demais, na época em que as notícias da forte estiagem na Região Sul, que prejudicou várias lavouras, dominavam o noticiário. Como exemplo, ele citou o caso da soja, cujos preços passaram de alta de 12,77% em abril para queda de 8,40% em maio.

Mas a aceleração da inflação no varejo é um fator a mais a se considerar, segundo Quadros. Ele afirmou que o aquecimento da demanda interna pode ser um dos fatores que estão elevando a inflação do varejo.

O resultado do IGP-10 não chegou a surpreender os analistas em Wall Street. Na opinião do estrategista de dívida soberana para América Latina do banco Lehman Brothers, John Welch, a variação negativa do IPA foi motivada pela apreciação do real frente ao dólar. Para ele, com a apreciação do real as condições monetárias tornaram-se significativamente apertadas. "E agora que a política monetária está consistente, o Banco Central não precisará promover novas elevações do juro", afirmou. Ele aposta na manutenção da Selic em 19,50% ao ano.

Na opinião da estrategista para América Latina do Royal Bank of Scotland, Flavia Cattan-Naslausky, o resultado do IGP-10 de maio traz um alívio. "Embora seja necessário considerar a volatilidade nos preços agrícolas, o resultado do IGP-10 de qualquer forma fornece um alívio", afirmou. Ela também aposta na manutenção da taxa Selic em 19,50% ao ano na reunião do Copom.