Título: Novo impasse Brasil-Argentina
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Economia, p. B5

Terminou em impasse a reunião realizada ontem pelos representantes da Câmara da Indústria do Calçado (CIC) da Argentina e da brasileira Abicalçados para definir a autolimitação à qual os fabricantes do Brasil terão de se submeter para continuar vendendo no mercado argentino. As negociações foram duras, já que os empresários da CIC pedem que a venda de calçados provenientes do Brasil seja rebaixada dos 15,6 milhões de pares registrados no ano passado para uma faixa de 12 milhões este ano. Caso os dois lados não cheguem a um acordo, o governo argentino já deixou claro que aplicará "medidas unilaterais" contra os calçados brasileiros. O próprio presidente Néstor Kirchner engajou-se pessoalmente nessa guerra ao declarar que era evidente que as importações brasileiras teriam de se restringir à faixa de 10 a 12 milhões de pares.

Do lado brasileiro, a redução das vendas ao mercado argentino é encarada com mal-estar, mais ainda porque os empresários deste país exigem que a autolimitação que a Abicalçados precisaria aceitar teria uma vigência de pelo menos dois anos. No início das discussões, exigiam três anos. Desta forma, alegam os representantes da CIC, a indústria poderá ter um "horizonte de previsibilidade".

Os dois lados concordaram em continuar as reuniões na segunda-feira em Buenos Aires. O secretário de Indústria e Comércio da Argentina, Miguel Peirano, sustentou que a retomada a curto prazo das conversas indica que os dois lados devem estar próximos de um consenso. "Espero que seja possível um acordo que combine o desenvolvimento das indústrias dos dois países."

Também o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, Márcio Fortes, que acompanhou as negociações, tem uma visão positiva do encontro: "Acho que os calçadistas chegarão a um entendimento". Fortes descartou que exista um clima de guerra comercial: "O entendimento entre empresas dos dois países é o melhor possível e a integração é grande... só na imprensa é que ocorrem exageros".

VINHOS

Produtores de vinho do Brasil e da Argentina também analisaram entraves comerciais. "Estamos buscando a autolimitação das vendas dos argentinos", explicou Hermes Zaneti, diretor superintendente da Cooperativa Vinícola Aurora, do Rio Grande do Sul. Ele também representa outros produtores brasileiros, que consideram que o País está sendo o alvo de uma invasão de vinho argentino, principalmente o de baixa qualidade.

As vendas de vinhos argentinos para o mercado brasileiro passaram de 600 mil litros em 1996 para 11,2 milhões de litros em 2004. A previsão para 2005 é de 21 milhões de litros.

Atualmente, 17% do consumo brasileiro de vinho é abastecido pela Argentina. Segundo Zaneti, os brasileiros propuseram limitar a entrada dos vinhos argentinos com preços de US$ 15 a US$ 40 (por caixa de 12 garrafas de 750 ml cada uma) a um teto de 6 milhões de litros. Os vinhos abaixo de US$ 15 não entrariam. E acima de US$ 40, a entrada estaria liberada.