Título: Bombardier ataca contratos militares da Embraer
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Economia, p. B6

A empresa canadense Bombardier, acusada pela Embraer de estar recebendo mais uma vez subsídios ilegais, alerta para os contratos militares fechados pela fabricantes brasileira de aviões. Em declarações ao Estado, a empresa alerta que a Embraer estaria se utilizando desses contratos, assinados com governos, para desenvolver tecnologias que depois são transferidas para aeronaves civis. Nos últimos dias, a disputa em torno da ajuda estatal que recebe a Bombardier voltou a despertar a atenção de governos e empresários. A primeira queixa veio da Embraer, competidora direta da Bombardier. Mas o próprio governo dos Estados Unidos também emitiu declaração afirmando estar preocupado com os subsídios. A guerra entre a Bombardier e a Embraer começou em meados dos anos 90, quando ficou claro que as duas empresas concorreriam pelo mesmo mercado. Tanto o Brasil como o Canadá tiveram de reformar seus sistemas de ajuda depois de julgamentos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Os dois países passaram, então, a negociar um acordo bilateral que está sob impasse diante do novo subsídio à Bombardier. Pelo projeto da empresa canadense, uma nova linha de aviões para 130 e 110 passageiros seria desenvolvida. Os governos do Canadá e do Reino Unido contribuiriam com US$ 700 milhões para o desenvolvimento desse jato.

Acusada de mais uma vez estar sendo subsidiada, a empresa canadense afirma que a Embraer tem uma vantagem que não existiria no Canadá: os contratos militares fechados pela empresa. Para o diretor de Comunicações da Bombardier, John Paul MacDonald, ao obter esses contratos, tanto Embraer, como Boeing ou Airbus acabam de forma indireta conseguindo recursos governamentais para desenvolver novas tecnologias, ``depois transposta para modelos civis¿, segundo MacDonald. Ele garante que a Bombardier não tem essa suposta vantagem, já que a indústria militar canadense não seria expressiva.

A própria imprensa canadense questiona os novos subsídios e alerta que, desde 1972, a Bombardier apenas devolveu aos cofres públicos do país uma pequena fração do total que já recebeu em empréstimos. Mas não é só a Embraer que está preocupada com os novos subsídios. O governo dos EUA decidiu se manifestar contra o anúncio sobre os subsídios dos governos do Canadá e do Reino Unido. Para Washington, subsídios não devem ser usados para desenvolver novos jatos civis. Para analistas, os americanos decidiram fazer essas declarações pelo menos por duas razões: tanto a Bombardier como a Embraer começam a produzir aviões de maior porte, o que pode ser uma futura ameaça a alguns modelos da Boeing. A outra preocupação é a participação européia no subsídio da Bombardier. Os britânicos darão US$ 350 milhões à empresa. Como os americanos questionam o financiamento europeu à Airbus, existe a percepção de que o mesmo mecanismo possa estar sendo usado nesse caso.

Os britânicos vão participar do financiamento do projeto, já que uma parte da montagem das peças do novo avião ocorrerá em Belfast, Irlanda do Norte. Segundo a empresa, essa unidade européia deverá criar mais de 5 mil postos de trabalho.

Os americanos também negociam com os europeus um acordo sobre os subsídios à Airbus e à Boeing. A idéia de Washington é trazer para a mesa de negociações tanto o Brasil como o Canadá em um segundo momento do processo. A Bombardier, porém, não confirma se apoiará a decisão do governo canadense de participar das negociações.