Título: Pequim cede e debaterá têxteis
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Economia, p. B9

A China cedeu e ontem aceitou incluir na agenda da Organização Mundial do Comércio (OMC) um debate, ainda que limitado, sobre os efeitos de suas exportações de produtos têxteis ao mundo. Na semana passada, países como Turquia e Jordânia pediram que o tema fizesse parte dos debates da entidade.

Mas em uma ação inédita, os chineses bloquearam a tentativa, alegando que não poderiam aceitar que o tema fosse institucionalizado nas negociações da OMC.

Ainda ontem, o presidente americano, George W. Bush, alertou o governo chinês para que respeite as regras do comércio mundial, pois só assim poderá ser admitido na OMC. Uma das prioridades de Washington é assegurar que "os que firmem acordos comerciais respeitem suas condições", disse Bush.

No dia 1.º de janeiro, as cotas para o comércio de produtos têxteis e que existiam há 40 anos foram eliminadas. Os países protecionistas tiveram dez anos para se preparar para essa eliminação, mas mesmo assim, estão se queixando e impondo novas medidas restritivas ao comércio, principalmente sobre os produtos chineses que estariam invadindo alguns dos principais mercados. Os Estados Unidos já restabeleceram as cotas para três produtos de algodão (calças, camisas e roupas íntimas).

Já países menores também estariam sofrendo as conseqüências das exportações chinesas, que teriam disparado nos quatro primeiros meses do ano. O problema desses países, porém, não é apenas a invasão de suas economias por produtos chineses, mas a perda de espaço em tradicionais mercados. A Turquia pediu, então, que o fenômeno voltasse a ser debatido pela OMC.

Assim como a China, o Brasil também era contra institucionalizar o debate sobre o comércio de produtos têxteis, alertando que o acordo já havia entrado em vigor no dia 1. º de janeiro e que não poderia ser reaberto. O governo, porém, garante que nunca chegou a dar um aval ao bloqueio feito pela China para impedir que o tema entrasse na agenda da OMC.

Agora, um meio termo foi negociado pelos países. O aumento das exportações entrará na agenda da OMC, mas de uma forma mais tímida e sem significar o monitoramento do comércio. Nos próximos dias, uma nova reunião deverá ser convocada para tratar do assunto.

AMEAÇAS

Pressionado principalmente pela França, Espanha e Itália, o comissário do Comércio da União Européia, Peter Mandelson, ameaçou ontem ir à OMC para impor cotas a dois produtos têxteis chineses (camisetas de algodão e fios de linho). "Por causa da continuidade de uma situação grave, decidi ativar os procedimentos de emergência", afirmou Mandelson em Bruxelas. Segundo ele, no primeiro trimestre as importações de camisetas chinesas para a UE cresceram 187% e as de fio de linho 56%.