Título: 'Câmbio na China está distorcido', diz Snow
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Economia, p. B9

Os riscos de a China manter o regime de câmbio fixo superam os riscos do regime de câmbio flexível, disse ontem o secretário do Tesouro americano, John Snow. "O regime cambial da China tornou-se altamente distorcido", apontou ele em nota, após a divulgação do relatório semestral do Departamento do Tesouro ao Congresso sobre desenvolvimento dos mercados de câmbio. "O câmbio fixo representa riscos para a saúde da economia chinesa, como disseminação de condições para geração de excesso de liquidez, inflação de preços dos ativos, grande fluxo de capital especulativo e excesso de investimentos." Segundo o relatório, "nenhum grande parceiro comercial dos EUA preencheu as condições técnicas para denominação sob a Lei de Comércio e de Competitividade de 1988". Contudo, as tendências atuais no comércio global podem pôr a China em violação à lei, diz o relatório. "Se a atual tendência continuar sem alteração substancial, as políticas da China devem preencher as condições do estatuto para a designação."

Snow afirma que o câmbio fixo a 8,28 yuan por dólar não é mais adequado para uma economia cada vez mais baseada no mercado. "Uma política monetária independente permitirá que a China persiga de forma mais fácil e eficaz a estabilidade de preço, a estabilidade de crescimento, e responda aos choques econômicos."

O atual sistema cambial chinês é alimentado por excesso de investimentos e excessiva dependência do crescimento liderado pelas exportações à custa do consumo doméstico, disse Snow, acrescentando que os EUA não esperam que o país se mova agora para um sistema cambial de livre flutuação de mercados de capital completamente liberalizados. "Isso seria um erro agora; o sistema bancário do país não está preparado." O sistema está preparado para "um passo intermediário, que reflita as condições básicas do mercado e permita uma suave transição para uma livre flutuação, completou.

PROBLEMA PARA OS VIZINHOS

O câmbio fixo da China está causando instabilidade nas economias vizinhas, que também têm de limitar a valorização de suas moedas para permanecerem competitivas, diz o relatório. "Sua habilidade para seguir políticas monetárias antiinflacionárias e mais independentes são limitadas pelas considerações de competitividade relacionadas com a China." Isso também impede o ajuste de desequilíbrios comerciais globais, manifestados pelo imenso déficit em conta corrente dos EUA e superávits na Europa e na Ásia.

Alcançar um comércio equilibrado ao redor do mundo exige que os EUA aumentem a poupança, assim como maior flexibilidade das moedas na Ásia e crescimento mais rápido na Europa e Japão. "Os EUA estão fazendo a sua parte, lidando com os desequilíbrios para resolver de forma agressiva nosso déficit fiscal e as obrigações no longo prazo." A Europa e o Japão também devem fazer reformas para aumentar o crescimento econômico, acrescentou. Para ele, o lento ritmo de reforma do câmbio chinês está dando munição para os defensores do protecionismo comercial.

O dólar ganhou impulso em Nova York e subiu em conseqüência do relatório do Tesouro. No fim da tarde, o iene era negociado a 107,41 por dólar, de 106,96 por dólar de segunda-feira; o euro era negociado a US$ 1,2614, de US$ 1,2633.