Título: País compra menos do Mercosul
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2005, Economia, p. B5

RIO - O peso do Brasil nas compras dos parceiros do Mercosul subiu de 24% para 32,4% nos últimos 6 anos, enquanto a presença conjunta dos sócios do bloco encolheu de 17,2% para 9,2% na pauta de exportação brasileira no período. A desproporção explica parte dos conflitos comerciais entre os países do bloco, principalmente, o Brasil e a Argentina. Os dados fazem parte de uma análise do diretor-executivo da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), Ricardo Markwald, que será divulgada na revista oficial da entidade. Markwald, argentino naturalizado brasileiro, acha que os países do bloco deveriam definir uma espécie de "salvaguarda consensual" para casos de conflito.

A idéia do governo argentino de salvaguardas automáticas é, para Markwald, "um absurdo". "Era melhor ter uma regra clara, um instrumento conjunto, previsível, acordado pelos parceiros, com prazos limitados", que garantiria ao Brasil que a Argentina não faria uso abusivo do mecanismo. Isso, afirma, evitaria as constantes disputas entre os países.

No estudo, Markwald cita outras medidas para a recuperação do Mercosul, como políticas conjuntas de promoção de investimentos, assistência técnica e reestruturação da produção e o fortalecimento institucional do acordo. "Na ausência de mudanças nessa direção, é difícil imaginar que a política comercial do atual governo consiga superar as ambigüidades que vêm caracterizando até o presente a posição brasileira frente ao Mercosul", conclui a análise do economista. Para especialistas, o País adota um discurso pró-integração, mas realiza poucas medidas práticas neste sentido.

Markwald reconhece que setores brasileiros sentem-se prejudicados com a "instabilidade das regras dos jogo" com a Argentina, mas afirma que este mercado ainda é importante e há setores ganhando. "É claro que alguns segmentos, como de eletrodomésticos, calçados, têxtil, fiquem irritados porque não há regras estáveis, mas mesmo nestes setores os porcentuais de penetração no mercado argentino são altos."