Título: MST cobra 430 mil assentamentos
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Nacional, p. A8

Na chegada da caravana de 12 mil pessoas ao centro de Brasília, ontem, o coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Paulo Rodrigues, anunciou o início de uma segunda fase da Marcha Nacional pela Reforma Agrária. Segundo ele, esse ciclo se inicia hoje com manifestações de reforço da marcha em 10 Estados. Foram 16 dias de caminhada desde a concentração, em 1.º de maio, em Goiânia, a 205 quilômetros. O MST cobra o assentamento de 430 mil famílias. A pauta de reivindicações, com 16 itens, será entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, às 16 horas, no Palácio do Planalto. Segundo Rodrigues, as ações serão simultâneas a protestos no Ministério da Fazenda, Embaixada dos EUA e Congresso. As atividades, que devem incluir ocupações, vão prosseguir conforme as agendas de cada Estado. Os sem-terra acamparam, por volta das 12 horas, nas imediações do Estádio Mané Garrincha, no Eixo Monumental. No trajeto, grupos realizaram performances e lavaram os pés do agricultor Luiz Beltrami de Castro, de 96 anos, o marchante mais idoso. Uma equipe de 150 policiais militares, 40 agentes de trânsito e 35 policiais rodoviários federais, com apoio de helicóptero da PM, cuidaram da segurança. Na chegada ao estádio, o trânsito ficou congestionado e a avenida N 1 teve de ser interditada por 55 minutos para a passagem da caravana. Os motoristas reclamaram. "Eles querem protestar e eu preciso trabalhar", disse o advogado Flávio Machado.

O líder nacional João Pedro Stédile elogiou o trabalho da polícia. "Eles foram nossos companheiros." Stédile entregou um boné do MST ao comandante do Policiamento Rodoviário Federal, Alex Sandro Klein da Fonseca, e pôs na cabeça o quepe do policial. "Não achavam que um dia iam ver isso", brincava com os jornalistas.

Stédile disse que a maior marcha já realizada pelo MST era um marco dos movimentos sociais no País. Para hoje é esperada a chegada de mais 3 mil manifestantes a Brasília. Às 10 horas, 200 militantes vão ao Congresso para audiências com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, e o presidente do Senado, Renan Calheiros.

CAMELÓDROMO

Entre as grandes barracas montadas nos jardins que cercam o Mané Garrincha, os camelôs montavam suas bancas e seduziam os inesperados consumidores. Depois de 15 dias de marcha, os sem-terra tinham muito o que comprar. "Precisava do espelho para fazer a barba", justificou Kléber Oliveira. Antonio Guerino preferiu óculos de sol. As bancas ofereciam CDs, perfumes, bijuterias e uma infinidade de quinquilharias, além de alimentos e refrigerantes. As estudantes Anelisa Mesquita Garcia e Luana Tavares juntaram-se à artesã Eliane Pereira. para vender livretos de poesias. Em pouco mais de 2 horas, tinham vendido 140 títulos. "Até um senhor que não sabe ler comprou para presentear um amigo", disse Anelisa.