Título: Congresso resiste a operação abafa e CPI deve ser instalada na quarta
Autor: Eugênia Lopes, Denise Madue¿o, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2005, Nacional, p. A4

O governo fracassou na tentativa de convencer parlamentares da base aliada a retirar suas assinaturas do requerimento de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar um suposto esquema de propinas nos Correios. Ao fim do primeiro dia da operação abafa, apenas cinco deputados haviam retirado suas assinaturas do requerimento. No Senado, a ação do governo provocou um efeito inverso: mais três senadores - Marcelo Crivella (PL-RJ), Aelton Freitas (PL-MG) e Magno Malta (PL-ES) - assinaram o requerimento de CPI. No fim do dia de ontem, o requerimento contava com 49 assinaturas de senadores (são necessárias 27) e 217 assinaturas de deputados (são necessárias 171). Na quarta-feira foram divulgadas 230 adesões de deputados, mas a conferência das assinaturas baixou o número para 222.

O Planalto trabalha com a meta de tentar retirar, pelo menos, as assinaturas de 60 deputados aliados e sabe que a oposição trabalha com um "fundo de reserva" de assinaturas, que está sendo mantido em sigilo e será acionado, se a estratégia do governo ameaçar se tornar eficaz. O presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou a leitura do requerimento da CPI para quarta-feira; até lá o governo poderá trabalhar para retirar assinaturas no requerimento.

CONTRA O RELÓGIO

Mas o calendário joga contra o governo, porque a presença de parlamentares será menor na semana que vem, por causa do feriado de Corpus Christi. Dessa forma, a tarefa de retirar 47 assinaturas na Câmara ou 23 assinaturas no Senado é hercúlea e, para a maioria dos observadores da vida parlamentar, muito difícil de ser alcançada.

Ainda assim, a oposição reclamou do prazo dado pelo presidente do Senado até a leitura do requerimento em plenário. "O presidente Renan deveria ter convocado a sessão para hoje (ontem), mas resolveu dar tempo para o governo trabalhar, para que os deputados retirem suas assinaturas", reclamou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).

O governo até tentou uma mobilização ontem. Apelos do ministro José Dirceu, chefe da Casa Civil, conseguiram demover oito senadores do PT de assinarem a CPI. Em reunião, os líderes do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e do PT, Delcídio Amaral (MS), dissuadiram os petistas do apoio, sob o argumento de que precisavam preservar o governo e de que a adesão inviabilizaria a estratégia de tentar retirar as assinaturas de deputados.

TEMPERO

Dos cinco deputados que retiraram o apoio, quatro são do PL e um do PP. Três deputados - João Paulo Gomes da Silva (PL-MG), Inácio Arruda (PC do B-CE) e Hamilton Casara (PL-RO) - chegaram a apresentar requerimento para retirar seus nomes, mas depois recuaram.

No Senado, o governo não teve espaço para operar a retirada de assinaturas do pedido de CPI e ainda foi obrigado ver o número de apoios crescer.