Título: Mais 200 civis mortos no Usbequistão
Autor: AP, Reuters e AFP
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2005, Internacional, p. A10

Tiroteios persistiam ontem à noite em Andijan, no leste do Usbequistão, palco do massacre de mais de 500 civis por forças de segurança do governo na sexta-feira, durante violenta repressão a um levante popular. Ontem surgiram mais denúncias de matança de centenas de manifestantes em cidades nos arredores de Andijan, perto da fronteira com o Quirguistão. Segundo o líder do grupo de defesa dos direitos humanos Apelo, Saidjahon Zaynabitdinov, as forças de segurança mataram cerca de 200 pessoas que participaram sábado de manifestação contra o governo em Pakhtabad, 30 quilômetros a nordeste de Andijan. A nova matança, se confirmada, converteria a repressão no Usbequistão na mais violenta na Ásia desde o massacre da Praça da Paz Celestial, na China, em 1989. Ao mesmo tempo, aumentou a pressão do Ocidente sobre o presidente usbeque, Islam Karimov, e pela primeira vez os EUA adotaram um tom mais crítico em seus comentários sobre a crise no país. O Departamento de Estado assinalou que a Casa Branca está "profundamente perturbada" pelos relatos de que as forças de segurança abriram fogo contra civis, mas também condenou a ação dos manifestantes, que invadiram edifícios governamentais em Andijan.

"Certamente condenamos o uso indiscriminado de força contra civis e lamentamos profundamente qualquer perda de vida", declarou a secretária de Estado, Condoleezza Rice. "Temos encorajado o governo de Karimov a fazer reformas, tornar o sistema mais aberto, tornar possível que as pessoas tenham uma vida política."

Ontem o chanceler britânico, Jack Straw, exigiu que jornalistas, a Cruz Vermelha e embaixadores tenham acesso à área de conflito. O governo usbeque está dificultando o trabalho da imprensa estrangeira e a TV estatal só divulga a versão oficial - de que Andijan foi alvo de um "bando de criminosos". Autoridades usbeques disseram depois que permitiriam a ida de diplomatas à região.

O levante em Andijan começou quando milhares de pessoas, entre as quais militantes islâmicos, invadiram a prisão local e libertaram 23 empresários acusados de financiar um grupo fundamentalista. Cerca de 2 mil presos foram soltos. Depois, os manifestantes tomaram prédios públicos. Em resposta, as tropas abriram fogo com tanques e metralhadoras.

Ontem a cidade de Korasuv, no leste, foi isolada pelas tropas depois que 5 mil revoltosos assumiram o controle da ponte para o Quirguistão, país que fechou a fronteira para impedir a entrada de refugiados. Andijan está cercada por tropas e blindados. Moradores disseram que os soldados estão combatendo militantes em um bairro periférico.

Na capital, Tashkent, políticos oposicionistas e ativistas dos direitos humanos depositaram flores num monumento, em apoio às vítimas da violência. Eles acusaram Karimov de ter ordenado a repressão. A polícia cercou o grupo, mas não interveio.